A seleção de alguns textos do Catecismo da Igreja Católica
pode nos ajudar a meditar, refletir e a se colocar na atitude de espera.
Não de qualquer espera, mas daquela iluminada pela fé e pelo amor, de
quem sabe a quem aguarda. Mesmo sem o saber, a humanidade toda está a
espera de uma felicidade sem fim, e do fim de toda dor e sofrimento.
Para nós este sentido último da vida tem nome e é uma pessoa: Jesus
Cristo, o filho de Deus. A vida toda é advento, porque no tempo de cada
um o Cristo vem nos salvar. (o número da margem refere-se ao texto do catecismo)
• A preparação para a vinda de Cristo
522. A vinda do Filho de Deus à terra é um
acontecimento de tal imensidão que Deus quis prepará-lo durante séculos.
Ritos e sacrifícios, figuras e símbolos da “Primeira Aliança”, tudo ele
faz convergir para Cristo; anuncia-o pela boca dos profetas que se
sucedem em Israel. Desperta, além disso, no coração dos pagãos a obscura
expectativa desta vinda.
• João Batista prepara o caminho
523. São João Batista é o precursor imediato do
Senhor, enviado para preparar-lhe o Caminho . “Profeta do Altíssimo” (Lc
1,76), ele supera todos os profetas, deles é o último , inaugura o
Evangelho ; saúda a vinda de Cristo desde o seio de sua mãe e encontra
sua alegria em ser “o amigo do esposo” (Jo 3,29), que designa como o
“Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). Precedendo a
Jesus “com o espírito e o poder de Elias” (Lc 1,17), dá-lhe testemunho
por sua pregação, seu batismo de conversão e, finalmente, seu martírio .
• A primeira e a segunda vinda de Cristo
524. Ao celebrar cada ano a liturgia do Advento, a
Igreja atualiza esta espera do Messias: comungando com a longa
preparação da primeira vinda do Salvador, os fiéis renovam o ardente
desejo de sua Segunda Vinda . Pela celebração da natividade e do
martírio do Precursor, a Igreja se une a seu desejo: “É preciso que Ele
cresça e que eu diminua” (Jo 3,30).
• Tempo de expectativa, de luta e de vigília
672. Cristo afirmou antes de sua Ascensão que ainda
não chegara a hora do estabelecimento glorioso do Reino messiânico
esperado por Israel , que deveria trazer a todos os homens, segundo os
profetas , a ordem definitiva da justiça, do amor e da paz. O tempo
presente é, segundo o Senhor, o tempo do Espírito e do testemunho , mas é
também um tempo ainda marcado pela “tristeza” e pela provação do mal ,
que não poupa a Igreja e inaugura os combates dos últimos dias . E um
tempo de expectativa e de vigília .
673. A partir da Ascensão, o advento de Cristo na
glória é iminente , embora não nos “caiba conhecer os tempos e os
momentos que o Pai fixou com sua própria autoridade” (At 1,7) . Este
acontecimento escatológico pode ocorrer a qualquer momento , ainda que
estejam “retidos” tanto ele como a provação final que há de precedê-lo .
• Tempo de reconhecer o Cristo na história
674. A vinda do Messias glorioso depende a todo
momento da história do reconhecimento dele por “todo Israel” . Uma parte
desse Israel se “endureceu” (Rm 11,25) na “incredulidade” (Rm 11,20)
para com Jesus. S. Pedro o afirma aos judeus de Jerusalém depois de
Pentecostes: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, a fim de que sejam
apagados os vossos pecados e deste modo venham da face do Senhor os
tempos de refrigério. Então enviará ele o Cristo que vos foi destinado,
Jesus, a quem o céu deve acolher até os tempos da restauração de todas
as coisas, das quais Deus falou pela boca de seus santos profetas” (At
3,19-21). E S. Paulo lhe faz eco: “Se a rejeição deles resultou na
reconciliação do mundo, o que será o acolhimento deles senão a vida que
vem dos mortos?” A entrada da “plenitude dos judeus” na salvação
messiânica, depois da “plenitude dos pagãos” , dará ao Povo de Deus a
possibilidade de “realizar a plenitude de Cristo” (Ef 4,13), na qual
“Deus será tudo em todos” (1Cor 15,28).
• Esperar a quem se conhece e em quem se crê
840. De resto, quando se considera o futuro, o povo
de deus da Antiga Aliança e o novo Povo de Deus tendem para fins
análogos: a espera da vinda ( ou da volta) do Messias. Mas o que se
espera é, do lado dos cristãos, a volta do Messias, morto e
ressuscitado, reconhecido como Senhor e Filho de Deus, e do lado dos
hebreus, a vinda do Messias – cujos traços permanecem encobertos —, no
fim dos tempos, espera esta acompanhada do drama da ignorância ou do
desconhecimento de Cristo Jesus.
• O sofrimento e a glória na espera da segunda vinda
556. No limiar da vida pública, o Batismo; no limiar da Páscoa, a Transfiguração. Pelo Batismo de Jesus “declaratum fuit mysterium primae regenerationis – foi manifestado o mistério da primeira regeneração”: o nosso Batismo; a Transfiguração “est sacramentum secundae regenerationis
– é o sacramento da segunda regeneração”: a nossa própria ressurreição .
Desde já participamos da Ressurreição do Senhor pelo Espírito Santo que
age nos sacramentos do Corpo de Cristo. A Transfiguração dá-nos um
antegozo da vinda gloriosa do Cristo, “que transfigurará nosso corpo
humilhado, conformando-o ao seu corpo glorioso” (Fl 3,21). Mas ela nos
lembra também “que é preciso passarmos por muitas tribulações para
entrarmos no Reino de Deus” (At 14,22): Pedro ainda não tinha
compreendido isso ao desejar viver com Cristo sobre a montanha . Ele
reservou-te isto, Pedro, para depois da morte. Mas agora Ele mesmo diz:
Desce para sofrer na terra, para servir na terra, para ser desprezado,
crucificado na terra. A Vida desce para fazer-te matar; o Pão desce para
ter fome; o Caminho desce para cansar-se da caminhada; a Fonte desce
para ter sede; e tu recusas sofrer?
• O Pai-nosso e a Eucaristia: a oração do tempo de paciência e de espera
2771 - Na Eucaristia, a Oração do Senhor manifesta
também o caráter escatológico de seus pedidos. É a oração própria dos
“últimos tempos”, dos tempos da salvação que começaram com a efusão do
Espírito Santo e que terminarão com a Volta do Senhor. Os pedidos ao
nosso Pai, ao contrário das orações da Antiga Aliança, apóiam-se sobre o
mistério da salvação já realizada, uma vez por todas, em Cristo
crucificado e ressuscitado.
2772 - Desta fé inabalável brota a esperança que
anima cada um dos sete pedidos. Estes exprimem os gemidos do tempo
presente, este tempo de paciência e de espera durante o qual “ainda não
se manifestou o que nós seremos” (1Jo 3,2) . A Eucaristia e o Pai-Nosso
apontam para a vinda do Senhor, “até que Ele venha” (1Cor 11,26).
• “Marana Tha”, apressa, Senhor, a vinda do seu Reino!
2816 - No Novo Testamento o mesmo termo “Basiléia”
pode ser traduzido por realeza (nome abstrato), reino (nome concreto) ou
reinado (nome de ação). O Reino de Deus existe antes de nós.
Aproximou-se no Verbo encarnado, é anunciado ao longo de todo o
Evangelho, veio na morte e na Ressurreição de Cristo. O Reino de Deus
vem desde a santa Ceia e na Eucaristia: ele está no meio de nós. O Reino
virá na glória quando Cristo o restituir a seu Pai: O Reino de Deus
pode até significar o Cristo em pessoa, a quem invocamos com nossas
súplicas todos os dias e cuja vinda queremos apressar por nossa espera.
Assim como Ele é nossa Ressurreição, pois nele nós ressuscitamos, assim
também pode ser o Reino de Deus, pois nele nós reinaremos .
2817 - Este pedido é o “Marana Tha”, o grito do
Espírito e da Esposa: “Vem, Senhor Jesus”! Mesmo que esta oração não nos
tivesse imposto um dever de pedir a vinda deste Reino, nós mesmos, por
nossa iniciativa, teríamos soltado este grito, apressando-nos a ir
abraçar nossas esperanças. As almas dos mártires, sob o altar, invocam o
Senhor com grandes gritos: “Até quando, Senhor, tardarás a pedir contas
de nosso sangue aos habitantes da terra?” (Ap 6,10). Eles devem, com
efeito, obter justiça no fim dos tempos. Senhor, apressa portanto a
vinda de teu reinado .
• No retorno de Cristo, a libertação de todo o mal
2853 - A vitória sobre o “príncipe deste mundo” foi
alcançada, de uma vez por todas, na Hora em que Jesus se entregou
livremente à morte para nos dar sua vida. É o julgamento deste mundo, e o
príncipe deste mundo é “lançado fora” , “Ele põe-se a perseguir a
Mulher” , mas não tem poder sobre ela: a nova Eva, “cheia de graça” por
obra do Espírito Santo, é preservada do pecado e da corrupção da morte
(Imaculada Conceição e Assunção da Santíssima Mãe de Deus, Maria, sempre
virgem). “Enfurecido por causa da Mulher, o Dragão foi então guerrear
contra o resto de seus descendentes” (Ap 12,17). Por isso o Espírito e a
Igreja rezam: “Vem, Senhor Jesus” (Ap 22,17.20), porque a sua Vinda nos
livrará do Maligno.
2854 - Ao pedir que nos livre do Maligno, pedimos
igualmente que sejamos libertados de todos os males, presentes, passados
e futuros, dos quais ele é autor ou instigador. Neste último pedido, a
Igreja traz toda a miséria do mundo diante do Pai. Com a libertação dos
males que oprimem a humanidade, ela implora o dom precioso da paz e a
graça de esperar perseverantemente o retorno de Cristo. Rezando dessa
forma, ela antecipa, na humildade da fé, a recapitulação de todos e de
tudo naquele que “detém as chaves da Morte e do Hades” (Ap 1,18), “o
Todo-poderoso, Aquele que é, Aquele que era e Aquele que vem” (Ap 1,8) :
Livrai-nos de todos os males, ó Pai, e dai-nos hoje a vossa paz.
Ajudados por vossa misericórdia, sejamos sempre livres do pecado e
protegidos de todos os perigos, enquanto, vivendo a esperança,
aguardamos a vinda do Cristo Salvador .
• Maria, a obediência da fé
148. A Virgem Maria realiza da maneira mais perfeita
a obediência da fé. Na fé, Maria acolheu o anúncio e a promessa trazida
pelo anjo Gabriel, acreditando que “nada é impossível a Deus” (Lc 1,37)
e dando seu assentimento: ”Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim
segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Isabel a saudou: “Bem-aventurada a que
acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido”
(Lc 1,45). É em virtude desta fé que todas as gerações a proclamarão
bem-aventurada .
149. Durante toda a sua vida e até sua última
provação , quando Jesus, seu filho, morreu na cruz, sua fé não vacilou.
Maria não deixou de crer “no cumprimento” da Palavra de Deus. Por isso a
Igreja venera em Maria a realização mais pura da fé.
• “Nada é impossível a Deus”
494. Ao anúncio de que, sem conhecer homem algum,
ela conceberia o Filho do Altíssimo pela virtude do Espírito Santo ,
Maria respondeu com a “obediência da fé”, certa de que “nada é
impossível a Deus”: “Eu sou a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a
tua palavra” (Lc 1,37-38). Assim, dando à Palavra de Deus o seu
consentimento, Maria se tornou Mãe de Jesus e, abraçando de todo o
coração, sem que nenhum pecado a retivesse, a vontade divina da
salvação, entregou-se ela mesma totalmente à pessoa e à obra de seu
Filho, para servir, na dependência dele e com Ele, pela graça de Deus,
ao Mistério da Redenção . Como diz Sto. Irineu, “obedecendo, se fez
causa de salvação tanto para si como para todo o género humano”. Do
mesmo modo, não poucos antigos Padres dizem com ele: “O nó da
desobediência de Eva foi desfeito pela obediência de Maria; o que a
virgem Eva ligou pela incredulidade a virgem Maria desligou pela fé”.
Comparando Maria com Eva, chamam Maria de “mãe dos viventes” e com frequência afirmam: “Veio a morte por Eva e a vida por Maria”.
in http://www.franciscanos.org.br/?p=28315