sexta-feira, 24 de maio de 2013

Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida

«Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida» — foi o tema abordado pelo papa Francisco, na Audiência Geral de oito de maio de 2013, na continuação da apresentação do «Credo», iniciada por Bento XVI, a propósito do Ano da Fé. «Mas quem é o Espírito Santo?», começou por questionar o Papa, dizendo que a primeira afirmação que fazemos é que o Espírito Santo é «Senhor», «verdadeiramente Deus como o Pai e o Filho», «a terceira Pessoa da Santíssima Trindade». Após esta introdução, o papa Francisco desenvolveu a sua reflexão a partir da constatação de que o «Espírito Santo é a fonte inesgotável da vida de Deus em nós». E todo o ser humano tem dentro de si este desejo de «água viva». A terminar, depois de apresentar várias citações do Novo Testamento, convida-nos a ouvir, a escutar o Espírito Santo, pois «a água viva que é o Espírito Santo sacia a nossa vida, porque nos diz que somos amados por Deus como filhos».

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
O tempo pascal, que com alegria estamos a viver guiados pela liturgia da Igreja, é por excelência o tempo do Espírito Santo doado «sem medida» (cf. João 3, 34) por Jesus crucificado e ressuscitado. Este tempo de graça concluir-se-á com a festa do Pentecostes, na qual a Igreja revive a efusão do Espírito sobre Maria e os Apóstolos reunidos em oração no Cenáculo.
Mas quem é o Espírito Santo?

Amar a imperfeição

Ouvi aí umas duzentas vezes o poeta Tonino Guerra citar o verso de um monge medieval: «É preciso ir além da banal perfeição». É isso mesmo: a perfeição pode ainda ser um caminho que trilhamos pela superfície ou constituir uma ilusão que nos impede de aceder ao verdadeiro e paradoxal estado da vida. Levamos tanto tempo até perder a mania das coisas perfeitas, até nos curarmos do impulso que nos exila no aparente conforto das idealizações, ou finalmente vencermos o vício de sobrepor à realidade um cortejo de falsas imagens! «É preciso ir além da banal perfeição».
Lembro-me de um filme de Nanni Moretti, acho que é “O quarto do filho”, em que uma personagem, estando a viver um duro luto, se coloca a arrumar no armário as chávenas de chá. Percebe então que uma tem um lado partido. Tenta disfarçar o facto, colocando visível apenas o lado intacto. Mas ela sabe que àquela chávena falta alguma coisa. Aquela chávena é o símbolo da sua vida, da nossa vida, que ela e nós temos de aceitar e redescobrir continuamente. Acolher isso é uma condição necessária no amor e na amizade, no viver comum e na maturação pessoal que nos cabe fazer.
Há aquele mote de Samuel Beckett que, se o soubermos ouvir, derrama sobre os nossos embaraços grande luz. Diz assim: «Errar, errar de novo, errar melhor». O que é errar melhor? É saber que, no fundo, erramos sempre. Isto é: a perfeição encontrámo-la nos catálogos, mas não nos nossos gestos ou em nós próprios. O mais sensato é mesmo adotar a humilde sabedoria de quem procura conscientemente o melhor, mas sabe que o seu melhor ficará ainda aquém. O que podemos aprender é, pois, a semear, num trabalho de confiança, de desprendimento e simplicidade cada vez maiores. Jung escrevia: «o importante não é ser perfeito, mas sim inteiro». E para nós, o que é realmente importante?
Durante anos tive em casa um cartaz de uma peça de teatro infantil, de um grande autor italiano. Para saber falar às crianças como ele o faz, a gente percebe que se tem de apetrechar não apenas uma enorme habilidade, mas uma afetuosa esperança. Os miúdos sabem distinguir bem quem lhes fala para entreter ou quem realmente lhes quer comunicar uma verdade de coração. Este autor, chamado Gianni Rodari, é assim. Durante anos tive um cartaz seu com esta frase: «errando também se inventa». Olhar para aquela frase transmitia-me o ânimo e a leveza de que precisava.
A perfeição coloca-nos perante a realidade como se de um facto consumado se tratasse: se formos mexer, intervir, retocar ou alterar, sentimos isso como uma perturbação. Essa perfeição é estática. Existe só para ser admirada… à distância. A imperfeição, porém (e penso também naquelas que identificamos na nossa vida interior), é uma história ainda em aberto, que conta ativamente connosco. Na imperfeição é sempre possível começar e recomeçar. A imperfeição permite-nos compreender a singularidade, a diversidade, o real impacto da passagem do tempo, o traço dos seus vestígios. A imperfeição humaniza-nos.

José Tolentino Mendonça  
In Diário de Notícias (Madeira) 21.05.11

terça-feira, 14 de maio de 2013

A linguagem simbólica do Espírito Santo

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Descida do Espírito Santo sobre os apóstolos e Maria (Pentecostes) (István Dorffmeister)
A Igreja assinala no próximo domingo o Pentecostes, solenidade em que se evoca a descida do Espírito Santo sobre a primeira comunidade cristã, reunida em Jerusalém, de acordo com a narrativa do livro bíblico dos Atos dos Apóstolos.
As palavras gregas “Pentekoste hemera”, que significam “dia quinquagésimo”, foram adotadas na Igreja para designar o Pentecostes, festa que decorre 50 dias após a Páscoa, encerrando o denominado Tempo Pascal.
Os sete dons do Espírito Santo (Sabedoria, Entendimento, Conselho, Fortaleza, Ciência, Piedade e Temor de Deus) estão na origem do impulso missionário da Igreja desde o seu início e relacionam-se com o sacramento da Confirmação (Crisma), que no domingo encontra uma data muito apropriada para ser recebido.
O mais recente número da revista “Bíblica”, editada pelos Franciscanos Capuchinhos, apresenta um dossier intitulado “Creio no Espírito Santo”, onde é feito um tratamento dos símbolos associados ao Pentecostes, com base no texto do Catecismo da Igreja Católica (CIC). 
É desse artigo, organizado pelo biblista Fr. Lopes Morgado, OFM Cap., que extraímos a explicação sobre os símbolos do Espírito Santo, representado nos paramentos litúrgicos pelo vermelho, cor que remete para o fogo.

Água
O simbolismo da água é significativo da ação do Espírito Santo no Batismo, pois que, após a invocação do Espírito Santo, ela torna-se o sinal sacramental eficaz do novo nascimento. Do mesmo modo que a gestação do nosso primeiro nascimento se operou na água, assim a água batismal significa realmente que o nosso nascimento para a vida divina nos é dado no Espírito Santo.
Mas, «batizados num só Espírito», «a todos nos foi dado beber de um único Espírito» (1 Cor 12, 13): portanto, o Espírito é também pessoalmente a Agua viva que brota de Cristo crucificado como da sua fonte, e jorra em nós para a vida eterna. (CIC 694)
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Batismo de Cristo (Guido Reni)

Unção
O simbolismo da unção com óleo é também significativo do Espírito Santo, a ponto de se tomar o seu sinónimo. Na iniciação cristã, ela é o sinal sacramental da Confirmação, que justamente nas Igrejas Orientais se chama “Crismação”.
Mas, para lhe apreender toda a força, temos de voltar à primeira unção realizada pelo Espírito Santo: a de Jesus. Cristo (Messias em hebraico) significa ungido pelo Espírito de Deus. Houve ungidos do Senhor na antiga Aliança, sobretudo o rei David. Mas Jesus é o ungido de Deus de maneira única: a humanidade que o Filho assume é totalmente «ungida pelo Espírito Santo».
Jesus é constituído «Cristo» pelo Espírito Santo. A Virgem Maria concebe Cristo do Espírito Santo, que pelo anjo O anuncia como Cristo aquando do seu nascimento e leva Simeão a ir ao templo ver o Cristo do Senhor. É Ele que enche Cristo e cujo poder emana de Cristo nos seus atos de cura e salvamento. Finalmente, é Ele que ressuscita Jesus de entre os mortos.

domingo, 12 de maio de 2013

O Segredo de Fátima - PEREGRINAR

À medida que o tempo passa, acredito mais no Segredo de Fátima. Nesse Segredo que desassossega, que nos arranca de casa, dos livros, da cidade e nos lança, anualmente, para a imensidão das estradas. Eu acredito num “não sei quê” que esse Segredo derrama em nós: uma porção de confiança, de abandono e de aventura. Uma vontade de tornar a vida mais que tudo verdadeira. De tornar generosos os projectos e fecundos os laços que nos ligam aos outros. De tornar absoluta a nossa sempre frágil Esperança.
À medida que o tempo passa, vou conhecendo pessoas cujo tesouro interior foi descoberto, ampliado nos caminhos de Fátima. Pessoas que contam histórias simples, misturadas com sorrisos e lágrimas. Histórias de um Encontro tão parecido ao  que teve uma rapariga da Judeia, de nome Maria.
Que têm os peregrinos de Fátima? Têm o vento por asas e a lonjura por canto. Têm a conversão por caminho e a prece ardente por mapa. São filhos de uma promessa que se cumpre dentro da vida.
Gosto dessa frase de Vitorino Nemésio que diz: «em Fátima, a Humanidade inteira passou a valer mais». Gosto, porque nos caminhos longos, imprevistos e profundos de uma peregrinação isso nos é ensinado como uma evidência humilde e apaixonante.
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P. José Tolentino Mendonça
Fotos: Caminho do Mar, Estoril

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Oração dos cinco dedos - Papa Francisco

Eis um método de oração estimado e querido do Papa Francisco. 
Certamente que é uma grande ajuda à nossa forma de rezar que envolve todas as dimensões da vida de cada um: pessoal, comunitária, cósmica e espiritual.
Muitas vezes não sabemos o que rezar, o que pedir, e as vezes até pensamos que o melhor é não pedir nada e só agradecer. Contudo, não só podemos como devemos pedir a Deus tudo quanto precisamos e entendemos como importante e necessário para todos. 
No Evangelho São Lucas Jesus diz: "Pedi e ser-vos-á dado; procurai e encontrareis; batei e abrir-se-vos-á; porque todo aquele que pede, recebe; quem procura, encontra; e ao que bate, abrir-se-á. qual o pai de entre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma serpente? Ou se lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente? ou se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Se vós que sois maus dais coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso pai que está nos céus dará o Espírito Santo àqueles que lho pedem!"
Assim, a oração dos cinco dedos é um excelente guia para não só saber o que pedir, mas também para sabermos quais petições são mais importantes. 

Aqui fica:

1. O dedo polegar é o que está mais perto de ti.
Assim, começa por orar por aqueles que estão mais próximo de ti. São os mais fáceis de recordar. Rezar por aqueles que amamos é «uma doce tarefa«.

2. O dedo seguinte é o indicador: reza pelos que ensinam, instruem e curam. Eles precisam de apoio e sabedoria ao conduzir outros na direcção correta. Mantém-nos nas tuas orações.

3. A seguir é o maior. Recorda-nos os nossos chefes, os governantes, os que têm autoridade. Eles necessitam de orientação divina.

4. O próximo dedo é o anelar. Surpreendentemente, este é o nosso dedo mais débil. Ele lembra-nos que devemos rezar pelos débeis, doentes ou pelos atormentados por problemas. Todos eles necessitam das nossas orações.

5. E finalmente temos o nosso dedo pequeno, o mais pequeno de todos. Este deveria lembrar-te de rezar por ti mesmo. Quando terminares de rezar pelos primeiros quatro grupos, as tuas próprias necessidades aparecer-te-ão numa perspectiva correcta e estarás preparado para orar por ti mesmo de uma maneira mais efectiva.

Deus nos abençoe a todos. Boa oração!

quinta-feira, 9 de maio de 2013

«Comunicador, quem é o teu próximo?» - Dia Mundial das Comunicações Sociais



A Igreja Católica assinala no próximo domingo, da Ascensão, o Dia Mundial das Comunicações Sociais.
Sobre o tema propomos alguns excertos da intervenção que o papa Francisco proferiu em outubro de 2002 na capital argentina, quando era cardeal e arcebispo de Buenos Aires. A conferência baseia-se na parábola bíblica do Bom Samaritano (Lucas 10, 25-37).

Comunicador, quem é o teu próximo?
Card. Jorge Mario Bergoglio (papa Francisco)

Ao abordar a reflexão do tema que me foi proposto, não posso, como cristão, deixar de referir-me inicialmente ao Evangelho. Não só porque a pergunta «quem é o teu próximo?» está inspirada na parábola do Bom Samaritano, mas - e principalmente - porque o Evangelho do Senhor é precisamente comunicar uma boa notícia.

O evangelho como boa notícia
«Vão por todo o mundo e anunciem o Evangelho». «Ensinem todos os homens a cumprir tudo o que vos mandei»: a lei da caridade. O Evangelho é uma boa notícia que temos a missão de anunciar a todos e "desde os telhados". E se aprofundamos mais, constatamos que os critérios mais profundos do anúncio, também para os novos media, são os do Evangelho. Por este motivo abordo o tema a partir desta perspetiva. Por outro lado, o desafio apresentado pelos media, com as suas tecnologias, o seu alcance global, a sua omnipresença e a sua influência sobre a sociedade e a cultura, são um convite ao diálogo e à "inculturação do Evangelho" (...).

quarta-feira, 8 de maio de 2013

“Dá mais Vida à tua Vida” - Semana da Vida 2013



Há luzes que brilham no meio das dificuldades do nosso tempo. No Ano da Fé, nos 50 Anos do Concílio Vaticano II e já sob o impulso da dádiva inestimável de Deus à sua Igreja, na pessoa do Papa Francisco, a omissão Episcopal do Laicado e Família propõe-nos a Semana da Vida, endereçada a todos os que procuram verdadeiras razões de esperança.
O lema da Semana - Dá mais vida à tua vida! – acorda em nós a consciência de que a vida é o maior e mais precioso dos dons. Mas também desperta e mobiliza para a premente necessidade de uma nova postura: sendo a vida, hoje, tão depreciada, ameaçada e destruída, urge parar esta cultura de morte, instaurando, em seu lugar, uma sólida cultura da vida.
A Semana da Vida corresponde ao apelo do Papa João Paulo II, de uma celebração anual em defesa da vida, com o objetivo de suscitar nas consciências, nas famílias, na Igreja e na sociedade, o reconhecimento do sentido e valor da vida humana em todos os seus momentos e condições, concentrando a atenção de modo especial na gravidade do aborto e da eutanásia. ... (EV 85)
A inteligência e o coração dizem-nos que a vida é direito e responsabilidade de todos e de cada um, ninguém vivendo só por si, nem apenas para si. Cabe-nos acolher, defender e promover a vida que foi depositada em nossas mãos, a própria e a dos outros. Como valor primeiro, ela deve ser também critério fundamental, subjacente a todas as instituições humanas, privadas ou públicas. Toda a sociedade que não fundamente as suas leis no respeito total pela vida, desumaniza-se e cava a sua própria ruína. Dar mais vida à nossa vida implica abraçá-la em todas as circunstâncias, sem ceder nem aos egoísmos, nem às modas ou correntes de opinião, nem aos mercados, nem aos parlamentos.

No nosso quadro cultural, reconhecidamente desfavorável, dar mais vida à vida é assumir modos concretos de defesa e promoção da dignidade inviolável de cada pessoa, desde a sua conceção até à sua morte natural.
Bem na nossa atualidade, não podemos ficar insensíveis aos que mais sofrem com a crise que atravessamos. O recente Encontro Mundial das Famílias, sobre A Família: o Trabalho e a Festa, apelou à vigilância atenta sobre a justiça das medidas económicas decretadas, denunciou a ilusão de se pretender responder aos problemas humanos apenas pela via económica e lembrou que a família não pode continuar a ser deformada e destruída sem que se ultraje e destrua a pessoa e a própria sociedade.
A Páscoa do Senhor, na sua Ascensão e na vinda do seu Espírito Santo, abre-nos à dimensão mais profunda do nosso ser. No meio de nós e fazendo-se em tudo igual, menos no pecado, Jesus liberta-nos e abre-nos à dimensão infinita da relação com o amor e a ternura de Deus. Revelando-nos o desígnio admirável da nossa origem, criados por amor e para o amor, convida-nos a seguir o exemplo da sua entrega completa para que tenhamos a vida e a tenhamos em abundância.

Alguns apoios
A Semana da Vida é uma oportunidade e um desafio para cada pessoa, grupo ou família, pensar em melhorar a qualidade de vida, sua e dos outros, nos âmbitos pessoal, profissional e comunitário, inspirando-se nos autênticos valores humanos e cristãos.
O Departamento Nacional da Pastoral Familiar elaborou algumas sugestões para cada dia e deixa a todos o desfio de as aperfeiçoarem e até de criaremos seus próprios meios, para conseguirem momentos, pessoais e comuns, de interioridade e partilha.
Propomos, designadamente, alguns gestos, leituras e orações, que podem ser consultados no site www.leigos.pt, no link referente à Semana da Vida.

Para todos, boa Semana da Vida! 

http://www.leigos.pt/

"Quem está sempre a lamentar-se não pode ser «bom cristão»!" Papa Francisco

O papa afirmou esta terça-feira que quem segue Cristo «é sempre alegre e nunca triste», mesmo quando passa por «tribulações», e acrescentou que quem «continuamente se lamenta» deixa de ser «um bom cristão».
«Ser paciente: esse é o caminho que Jesus também nos ensina a nós, cristãos. Ser paciente... Isto não quer dizer ser triste. Não, não, é outra coisa. Quer dizer suportar, levar sobre as costas o peso das dificuldades, o peso das contradições, o peso das tribulações», acentuou na missa a que presidiu no Vaticano, refere o portal de notícias da Santa Sé.
Essa perseverança exige «maturidade cristã», que não se obtém «de um dia para o outro» mas, «como o bom vinho», requer «toda a vida».
Francisco recordou que muitos mártires foram alegres, como por exemplo os de Nagasaki, no Japão, ajudando-se mutuamente enquanto esperavam «o momento da morte».
De alguns mártires, termo que quer dizer “testemunhas”, dizia-se que «iam para o martírio» como a uma boda, frisou o papa, salientando que esta atitude não é «masoquista» mas que conduz «à estrada de Jesus».
«Quando surgem as dificuldades chegam também muitas tentações. Por exemplo, a lamentação», declarou, realçando que «o silêncio para suportar a cruz não é triste», embora possa ser «muito doloroso».
A pessoa paciente é, a longo termo, «mais jovem»: «Pensemos naqueles anciãos e anciãs na casa de repouso, naqueles que muito suportaram na vida: olhemos os olhos, olhos jovens, têm um espírito jovem e uma juventude renovada», assinalou.
«Não vos contenteis com uma vida medíocre; caminhai decididamente para a santidade», foi o texto publicado esta manhã através da conta do papa na rede social Twitter.
Também esta terça-feira a Santa Sé anunciou o programa da primeira viagem apostólica de Francisco, ao Brasil, de 22 a 29 de julho, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude, que decorre no Rio de Janeiro.
A celebração da missa no santuário de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, a reunião com a presidente da República, encontros com bispos e seminaristas e as visitas a uma instituição de toxicodependentes e a um bairro recuperado pelo Governo constituem alguns dos pontos da agenda papal, a par do programa previsto para a Jornada Mundial da Juventude.

Rui Jorge Martins | © SNPC | 08.05.13
http://www.snpcultura.org/quem_esta_sempre_lamentar_se_nao_pode_ser_bom_cristao.html

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Gerar na fé é uma tarefa cultural

Por que razão o tema do "gerar para a fé" pode ser definido como "uma batalha cultural"? Não bastaria enfrentar essa questão sobre o plano da pastoral e da organização da praxis eclesial concreta, em vista da nova evangelização? Não seria mais lógico pensar em termos de uma nova mistagogia e aprofundamento da idade mais ajustada para a celebração dos sacramentos de  iniciação cristã por parte dos nossos rapazes e das nossas raparigas?
Estabelecer a questão da geração na fé e para a fé sobre o plano diretamente cultural não pretende, obviamente, diminuir o valor dos outros percursos de reflexão igualmente urgentes. Pretende, contudo, chegar a um nível que é, de certa forma, o fundamento deles.

O problema real são os adultos
Qual é, então, o horizonte a que nos queremos referir quando falamos de batalha cultural relativamente à relação entre jovens e fé? Queremos explicitamente evidenciar a imposição de um novo sentimento de vida, que plasmou a existência das gerações menos jovens - dos adultos, para sermos precisos - rumo a uma cultura da juventude, que de facto e por paradoxo, a todos os níveis, humano e religioso, constitui um grande obstáculo para a existência dos jovens. Para dizê-lo numa penada, vivemos um tempo no qual os adultos gostam mais da ideia de juventude do que os próprios jovens. E nisto, os adultos tornam-se incapazes daquela experiência de gestação, humana e religiosa, de que são todavia os atores principais.
(...)
Os jovens, de quem os sociólogos sublinham a estranheza à fé, são filhos de adultos que deixaram de dar espaço à própria fé cristã: continuam a pedir os sacramentos da fé, mas sem fé nos sacramentos; levam os filhos à Igreja mas não levam a Igreja aos seus filhos; favorecem o ensinamento da religião mas reduzem a religião a uma simples questão escolástica. Pedem às suas crianças para rezarem e irem à missa mas muitas vezes nem a sua sombra se vê na Igreja. E, sobretudo, os mais novos não encontraram os pais na oração ou na leitura do evangelho.
Estes adultos impuseram uma divergência clara entre a educação para viver e a educação para crer, uma divergência que, mesmo que não negando diretamente Deus, avalizou descrença: "se Deus não é importante para o meu pai e para a minha mãe, não o pode ser para mim. Se o meu pai e a minha mãe não rezam, a fé não implica com a vida. Se não há lugar para Deus na existência no mundo - no sentimento de vida - do meu pai e da minha mãe, não existe realmente o problema do lugar de Deus na minha existência".
Foi assim interrompida a aliança entre paróquia e família: de um lado da balança fica o evangelho, a oração, a solidariedade...; do outro lado, o iogurte, a dieta, o ginásio, o estádio e o creme antienvelhecimento... Há muito tempo que nós, adultos, pedimos a felicidade apenas a estas coisas...

Reevangelizar a idade adulta
Sem adultos na fé não pode existir gestação da fé. O ponto problemático é precisamente o da liquidação da idade adulta, que é a verdadeira chave do universo cultural ocidental. Não nos faltam apenas adultos na fé. Faltam-nos adultos "tout court".
É por isso urgente que a comunidade crente concretize uma tarefa cultural precisa e importante: reevangelizar a idade adulta. Trata-se de restituir e de "reinstituir" dignidade e apetência à dimensão adulta da existência. Não podemos apreciar apenas a juventude e aquilo que farmacêutica e cirurgicamente se lhe assemelha. Temos necessidade absoluta de adultos: adultos enquanto pessoas reconciliadas com a verdade da vida e da vocação humana. Precisamos deles para o bem estar da sociedade e da Igreja. Mas é uma tarefa que realmente não é fácil.

Este texto integra o número 19 do "Observatório da Cultura" (abril 2013).
Armando Matteo, Assembleia plenária do Pontifício Conselho para a Cultura
Roma, 6-9.2.2013

quinta-feira, 28 de março de 2013

Semana Santa APRENDER A SAIR DE NÓS MESMOS - Primeira Audiência Geral do Papa Francisco


Quarta-feira, Março 27, 2013

Irmãos e irmãs, bom dia!
Tenho o prazer de acolher-vos nesta minha primeira Audiência Geral. Com grande reconhecimento e veneração acolho o “testemunho” das mãos do meu amado predecessor Bento XVI. Depois da Páscoa retomaremos as catequeses do Ano da Fé. Hoje gostaria de concentrar-me um pouco sobre a Semana Santa. Com o Domingo de Ramos iniciamos esta Semana – centro de todo o Ano Litúrgico – na qual acompanhamos Jesus durante a sua Paixão, Morte e Ressurreição.

Mas o que pode querer dizer viver a Semana Santa para nós? O que significa seguir Jesus no seu caminho no Calvário para a Cruz e a ressurreição? Na sua missão terrena, Jesus percorreu os caminhos da Terra Santa; chamou 12 pessoas simples para que permanecessem com Ele, compartilhando o seu caminho, e para que continuassem a sua missão; escolheu-as entre o povo cheio de fé nas promessas de Deus. Falou a todos, sem distinção, aos grandes e aos humildes, ao jovem rico e à pobre viúva, aos poderosos e aos indefesos; levou a misericórdia e o perdão de Deus; curou, consolou, compreendeu; deu esperança; a todos levou a presença de Deus que se interessa por cada homem e cada mulher, como faz um bom pai e uma boa mãe para cada um de seus filhos.

Deus não esperou que fôssemos a Ele, mas foi Ele que se moveu para nós, sem cálculos, sem medidas. Deus é assim: Ele dá sempre o primeiro passo, Ele move-se na nossa direcção. Jesus viveu a realidade quotidiana do povo mais comum: comoveu-se diante da multidão que parecia um rebanho sem pastor; chorou diante do sofrimento de Marta e Maria pela morte do irmão Lázaro; chamou um cobrador de impostos como seu discípulo; sofreu também a traição dum amigo. Nele, Deus deu-nos a certeza de que está connosco, no meio de nós. “As raposas – disse Ele – têm as suas tocas e as aves do céu os seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8, 20). Jesus não tem casa porque a sua casa é o povo, somos nós, a sua missão é abrir a todos as portas de Deus, ser a presença do amor de Deus.

Na Semana Santa vivemos o ápice deste momento, deste plano de amor que percorre toda a história da relação entre Deus e a humanidade. Jesus entra em Jerusalém para cumprir o último passo, no qual reassume toda a sua existência: doa-se totalmente, não tem nada para si, nem mesmo a vida. Na Última Ceia, com os seus amigos, compartilha o pão e distribui o cálice “por nós”. O Filho de Deus oferece-se a nós, entrega nas nossas mãos o seu Corpo e o seu Sangue, para estar sempre connosco, para morar no meio de nós. E no Monte das Oliveiras, como no processo diante de Pilatos, não oferece resistência, doa-se; é o Servo sofredor profetizado por Isaías que se despojou até a morte (cfr Is 53,12).

Jesus não vive este amor que conduz ao sacrifício de modo passivo ou como um destino fatal; é certo que  não esconde a sua profunda inquietação humana diante da morte violenta, mas confia plenamente no Pai. Jesus entregou-se voluntariamente à morte para corresponder ao amor de Deus Pai, em perfeita união com a sua vontade, para demonstrar o seu amor por nós. Na cruz Jesus “amou-me e entregou-se a si mesmo” (Gal 2,20). Cada um de nós pode dizer: amou-me e entregou-se a si mesmo por mim. Cada um pode dizer este “por mim”.

O que significa tudo isto para nós? Significa que este é também o meu, o teu, o nosso caminho. Viver a Semana Santa seguindo Jesus não somente com a emoção do coração; viver a Semana Santa seguindo Jesus quer dizer aprender a sair de nós mesmos, para ir ao encontro dos outros, para ir para as periferias da existência, mover-nos primeiro para os nossos irmãos e as nossas irmãs, sobretudo aqueles mais distantes, aqueles que são esquecidos, aqueles com maior necessidade de compreensão, de consolação, de ajuda. Há tanta necessidade de levar a presença viva de Jesus misericordioso e rico de amor!

Viver a Semana Santa é entrar sempre mais na lógica de Deus, na lógica da Cruz, que não é antes de tudo aquela da dor e da morte, mas aquela do amor e da doação de si que traz vida. É entrar na lógica do Evangelho. Seguir, acompanhar Cristo, permanecer com Ele exige um “sair”, sair. Sair de si mesmo, de um modo cansado e rotineiro de viver a fé, da tentação de fechar-se nos próprios padrões que terminam por fechar o horizonte da acção criativa de Deus. Deus saiu de si mesmo para vir ao meio de nós, colocou a sua tenda entre nós para nos trazer a sua misericórdia, que salva e dá esperança. Também nós, se desejamos segui-Lo e permanecer com Ele, não devemos contentar-nos em permanecer no recinto das 99 ovelhas, devemos “sair”, procurar com Ele a ovelha perdida, aquela mais distante. Lembrem-se bem: sair de nós mesmos como Deus saiu de si mesmo em Jesus e Jesus saiu de si mesmo por todos nós.

Alguém poderia dizer-me: “Mas, padre, não tenho tempo”, “tenho tantas coisas a fazer”, “é difícil”, “o que posso fazer com as minhas poucas forças, também com o meu pecado, com tantas coisas?”. Sempre nos contentamos com alguma oração, com uma Missa dominical distraída e não constante, com qualquer gesto de caridade, mas não temos esta coragem de “sair” para levar Cristo. Somos um pouco como Pedro. Assim que Jesus fala de paixão, morte e ressurreição, de doação de si, de amor para todos, o Apóstolo afasta-o e repreende-o. Aquilo que diz Jesus perturba os seus planos, parece inaceitável, coloca em dificuldade as seguranças que se havia construído, a sua ideia de Messias. E Jesus olha para os discípulos e dirige a Pedro talvez uma das palavras mais duras dos Evangelhos: “Afasta-te de mim, Satanás, porque os teus sentimentos não são os de Deus, mas os dos homens” (Mc 8, 33).

Deus pensa sempre com misericórdia: não se esqueçam disso. Deus pensa sempre com misericórdia: é o Pai misericordioso! Deus pensa como o pai que espera o retorno do filho e vai ao seu encontro, vê-lo vir quando ainda é distante…O que isto significa? Que todos os dias ia ver se o filho retornava a casa: este é o nosso Pai misericordioso. É o sinal que o esperava de coração no terraço de sua casa. Deus pensa como o samaritano que não passa próximo à vítima olhando por outro lado, mas socorre-a sem pedir nada em troca; sem perguntar se ele era judeu, se era pagão, se era samaritano, se era rico, se era pobre: não pergunta nada. Não pergunta essas coisas, não pergunta nada. Vai em seu auxílio: assim é Deus. Deus pensa como o pastor que dá a sua vida para defender e salvar as ovelhas.

A Semana Santa é um tempo de graça que o Senhor nos dá para abrir as portas do nosso coração, da nossa vida, das nossas paróquias – que pena tantas paróquias fechadas! – dos movimentos, das associações, e “sair” de encontro aos outros, fazer-nos próximos para levar a luz e a alegria da nossa fé. Sair sempre! E isto com amor e com a ternura de Deus, no respeito e na paciência, sabendo que nós colocamos as nossas mãos, os nossos pés, o nosso coração, mas em seguida é Deus que os orienta e torna fecunda cada acção nossa.

Desejo que todos vivam bem estes dias, seguindo o Senhor com coragem, levando em nós mesmos um rasgo do seu amor a quantos encontrarmos.