quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Retiro para casais

A Equipa da Pastoral Familiar do Arciprestado de Vila Nova de Famalicão está a organizar um RETIRO PARA CASAIS. Este será seguramente uma oportunidade de aprofundamento da espiritualidade do casal e consequentemente da família. 
O retiro começa no dia 8 de Março, sexta-feira, com o jantar às 20h, no Centro Apostólico do Sameiro e terminará no dia 10, domingo, à tarde. Para orientar o retiro contamos com a presença do Cónego Vítor Novais, reitor do Seminário Conciliar da Arquidiocese de Braga.
Mais informamos que as instalações e condições são muito boas e têm por custos os seguintes preços: dormida em quarto duplo 36 euros, e refeição 10 euros (com bebidas) o que perfaz um total de 152€ por casal. Contudo, que ninguém deixe de participar por questões económicas. Estamos dispostos a ajudar quem precisar.Para o efeito contactem a equipa arciprestal através do email.
Deixamos aqui também a ficha de inscrição, a qual poderá chegar por email familia.arciprestado@gmail.com ou pessoalmente, à Equipa da Pastoral Familiar Arciprestal, até ao dia 1 de Março (semana anterior à do retiro). Há limite de inscrições.
Naturalmente que o contacto pessoal é sempre mais "eficaz" do que o anúncio para todos. 
Se gostarias de ter uma experiência deste género, pois contacta a Equipa da Pastoral Familiar Arciprestal para o email acima referido.
A Equipa de Pastoral Familiar do Arciprestado de Vila Nova de Famalicão

Matrimónio e Educação‏ - VIII Jornada da Família EDUCAR PARA QUÊ?

Reflectir em poucas linhas sobre duas das realidades mais complexas e mais importantes para a pessoa humana, para além de poder ser uma tarefa quase impossível de realizar, pode ainda levar-nos a correr o risco de dizer coisas perfeitamente banais e simplistas.
E contudo, torna-se um desafio interessante, pois aquilo que formos capazes de pensar e dizer a este nível terá obrigatoriamente muito a ver com a maneira como encaramos a vida.
É verdade que, com frequência, ouvimos dizer que o matrimónio e a educação estão a passar por uma profunda crise. Os dados estatísticos no que diz respeito ao divórcio e a realidade que todos vamos ouvindo, aqui e acolá, acerca das dificuldades da vida em casal parecem comprovar, sem margem para dúvidas, esta crise. Também no que diz respeito à educação o panorama não parece ser melhor, sendo frequente encontrar posições de desencanto e mesmo desânimo em muitos dos seus protagonistas.
Apesar desta realidade eu não quero ser pessimista, nem tenho como objectivo fazer aqui a análise dessa situação. O espaço que aqui disponho não me permite fazer isso, e, por outro lado, prefiro fazer uma afirmação inequívoca da importância do matrimónio e da educação para a construção da pessoa (de cada pessoa) e, por conseguinte, para a humanização deste mundo. A relação entre estas duas realidades (matrimónio e educação) penso que ficará clara a partir desta perspectiva.
Na verdade, ao olhar para a condição humana, somos capazes de perceber como cada um de nós é um ser ‘acolhido’. Basta para isso fazermos a simples constatação que nenhum de nós se deu a vida a si mesmo. Todos a recebemos como um dom ‘dado’ por alguém. Quando tomamos consciência da nossa própria existência, já estamos nela. E se isto é evidente do ponto de vista meramente biológico, igualmente evidente me parece em todos os outros níveis específicos da condição humana.
Se não vejamos: Como é que aprendemos a falar? Como alcançamos capacidade de entender o mundo e a existência? Como é que aprendemos a amar? Como somos capazes de desenvolver a nossa capacidade de reflectir? Como é que aprendemos a simbolizar? Como somos capazes de dizer, intuir e experimentar o transcendente? Bastam estas perguntas para percebermos que sem os outros jamais chegaríamos a desenvolver estas características tão específicas da nossa condição.
Mas podemos ainda ir mais longe, e afirmar que a própria identidade pessoal, que é aquilo que nos individualiza e nos torna únicos e irrepetíveis, não é uma mera conquista, mas é também uma experiência de ser recebido e acolhido. Como é que eu descubro quem sou? Como é que eu descubro o meu nome? Não é porque os outros me tratam como um ‘eu’ e me chamam assim, que eu tenho a possibilidade de ir crescendo e ganhando a consciência de ser esse eu? Claro que não devo isso só aos outros, claro que a minha capacidade de interacção e de entrega é fundamental, mas a verdade é que sem os outros eu não chegava a ser o que sou.
Até mesmo a minha condição de ser pai me diz isso. Só acedi a essa experiência por causa dos meus filhos. Ser pai do André e do Filipe é algo que é constitutivo da minha identidade pessoal, ou seja preciso deles para construir a minha identidade pessoal, por isso, eles são parte constitutiva dela.
A partir destas pequenas ideias, que como é obvio precisavam de mais espaço para serem desenvolvidas, posso agora afirmar, sem correr um grande risco de ser mal entendido, que o ser humano só se vai humanizando à medida que vai vivendo a relação com os outros.
Claro que quando nascemos já possuímos as características genéticas e biológicas específicas da condição humana, mas todos estamos de acordo que ser homem e mulher é muitíssimo mais do que simples biologia ou genética. As linguagens que utilizamos, a cultura que construímos e da qual também fazemos parte, a experiência religiosa que vivemos, o amor que damos e recebemos, os projectos que vamos sendo capazes de realizar, quer ao nível individual como social, tudo isso, que é também característico da nossa realidade (e para mim o mais característico), exige a existência dos outros.
E afinal o que é que isto tudo tem a ver com o matrimónio e a educação? Do meu ponto de vista e a partir da minha experiência, atrevo-me a afirmar que tudo.
É que ser pessoa humana é algo que requer obrigatoriamente a presença e o amor dos outros. É que a educação tem por objectivo principal a formação integral da pessoa humana. É que o matrimónio é aquele tempo e espaço, aquela relação, onde duas pessoas se vão construindo uma à outra, sendo capazes de dar origem a algo de novo, o nós (que não elimina a identidade pessoal de cada um, mas pelo contrário a alimenta) que muitas vezes se concretiza num alguém totalmente novo e irrepetível (os filhos).
Somos pessoas porque alguém antes de nós teve a capacidade de viver uma relação de personalização e amadurecimento capaz de gerar vida nova (não ignoro que muitas vidas são, infelizmente, geradas fora deste âmbito, mas insisto na ideia de que o característico da vida humana é muito mais do que simples biologia). Somos pessoa porque fomos acolhidos numa experiência de amor que foi capaz de nos lançar nesse patamar da condição humana e cada dia é capaz de nos ir ajudando a crescer como pessoas (independentemente da idade que tenhamos, pois isto é um processo para toda a vida). Somos pessoa porque fomos sendo educados como tal, e porque continuamos a sê-lo.
Não apoiar inequivocamente o matrimónio, não apostar claramente numa educação pessoal e pessoalizadora é correr o grave risco de poder criar sociedades menos humanas.
Todos estamos empenhados em construir um mundo mais humano e mais fraterno. Mas não tenhamos dúvidas que isso só será possível se tivermos pessoas mais humanas e mais fraternas, e isso passa obrigatoriamente pela educação e pela capacidade que tivermos em viver a experiência matrimonial duma maneira verdadeira e profunda.

Juan Francisco Ambrosio
Prof. Teologia

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

VIII Jornada da Família - Reflexão do casal Manuel e Ilídia Leite


Nós, enquanto casal do conjunto de 8 casais da Pastoral Familiar de V.N. Famalicão (Stº Adrião) e Brufe, um dos casais da organização da VIII Jornada da Família, fazemos a nossa reflexão de lançamento e desafio à jornada. 
Vivemos dominados pelo discurso da crise, e temos que nos adaptar à realidade, lutando obviamente contra a adversidade.
A crise é essencialmente económica, mas há 2 realidades que estão antes dela (uma) e depois dela (outra):
 
1 – Antes da crise económica está a crise do ser humano levado para o comportamento individualista, materialista/consumista, ser funcional no mundo do trabalho, conduzindo à degradação da dignidade humana, das relações inter-pessoais e, em particular, da instituição familiar.


2 – Depois, com a crise instalada, está a realidade das consequências nefastas da mesma sobre a vida de cada um, sobre as relações inter-pessoais, a sustentabilidade das relações, o equilíbrio emocional, material e cultural das famílias.

Estamos, portanto, num ciclo vicioso: a crise do “homem” que o leva a investir no TER em prejuízo do SER, e depois o acentuar da crise quando perde o SER e o TER.

Em suma: a crise essencialmente económica que nos envolve, não resulta somente de más gestões económicas e financeiras, mas de um conjunto de factores humanos e sociais, estabelecidos sobretudo na 2ª metade do século XX.

Enquanto somos abafados pelo alarido de como contornar a crise,… como sair do jugo do FMI ou da Troika, esquecemo-nos de ir contrariando algumas das consequências da crise.
Então, com esperança e confiança nas capacidades humanas de superação das adversidades, temos que ir minimizando os estragos ou corrigir os erros que as crises vão infligindo às pessoas e às famílias.

Temos que investir no SER.

Investir no SER é uma questão cultural, educacional. Falar de educar é falar do(s) lugar(es) onde educar.

Ora a 1ª escola da vida é a FAMÍLIA.

Não é despiciendo, pelo contrário, é muito importante, em tempo de “faltas materiais”, falar daquilo que sustenta a humanidade em qualquer circunstância:
a unidade, a agregação das pessoas, a solidariedade, o bom relacionamento, a família, a educação, a espiritualidade.

E entramos, assim, na temática do “Educar para quê?”.
 
O bem-estar material é, naturalmente, importante na vida. Mas não sei se todos damos conta de que a EDUCAÇÃO é o desafio fundamental, básico, duma sociedade. Que contemple:

                - Relação afetiva na família
                - Relação solidária / O exercício do bem / O conceito ÉTICO
                - Conhecimento / Cultura
                - Beleza / O BELO / Conceito ESTÉTICO / Arte
                - Relação com a natureza / Sentido ECOLÓGICO
                ….

Repito: há que investir no SER.

E tornarmo-nos SERES-COM e SERES-PARA, o(s) outro(s), ponto de partida para todo o debate social, político, económico.

Somos confrontados, à nossa volta, sempre com alguns comentários sobre o interesse, a oportunidade, o acolhimento deste tipo de iniciativas.

O que dizemos é que é importante sairmos de casa, encontrarmo-nos, na nossa comunidade, na cidade, onde quer que seja e fazer encontro de convívio, debate, troca de experiências, falar e ouvir falar de problemas que nos cercam, e de eventuais propostas.

O nosso espaço é de matriz cristã, mas afirmamo-lo com ênfase, é um espaço aberto à pluralidade de crenças, à pluralidade de ideias sobre a família e a educação. Só assim é verdadeiramente cristão. Cristo é o Homem da diferença, no Seu tempo e no de hoje.
Diferença para o VERDADEIRAMENTE HUMANO, mas lidando com opositores.

Um comentário: Da maneira como “isto vai” não há ânimo para nada. Não pode ser.
A perda de ânimo é a perda da alma. A perda da alma é a perda do corpo. Nesta unidade CORPO–ALMA, se a componente corpórea sofre mais com a falência destes tempos, que o ânimo (alma) não deixe baixar os braços do corpo.
Por isso, vamos em frente e… venham à jornada.

Manuel Leite e Ilídia Leite

Carta a Diogneto

“Jóia da antiguidade cristã”, “pérola da apologética do século II”, a carta a Diogneto, de autor anónimo, é um precioso fragmento da primitiva experiência cristã e do esforço de diálogo da Igreja com a cultura circunstante. Escrita provavelmente nos finais do século II, nela se encontram autênticas parcelas de ouro puro da sabedoria evangélica que conferem a este texto uma actualidade singular.

V.1 Os cristãos não se distinguem dos demais homens, nem pela terra, nem pela língua, nem pelos costumes.  
2 Nem, em parte alguma, habitam cidades peculiares, nem usam alguma língua distinta, nem vivem uma vida de natureza singular.  
3 Nem uma doutrina desta natureza deve a sua descoberta à invenção ou conjectura de homens de espírito irrequieto, nem defendem, como alguns, uma doutrina humana.  
4 Habitando cidades Gregas e Bárbaras, conforme coube em sorte a cada um, e seguindo os usos e costumes das regiões, no vestuário, no regime alimentar e no resto da vida, revelam unanimemente uma maravilhosa e paradoxal constituição no seu regime de vida político-social.
5 Habitam pátrias próprias, mas como peregrinos: participam de tudo, como cidadãos, e tudo sofrem como estrangeiros. Toda a terra estrangeira é para eles uma pátria e toda a pátria uma terra estrangeira. 
6 Casam como todos e geram filhos, mas não abandonam à violência os neonatos. 
7 Servem-se da mesma mesa, mas não do mesmo leito.  
8 Encontram-se na carne, mas não vivem segundo a carne.  
9 Moram na terra e são regidos pelo céu.  
10 Obedecem às leis estabelecidas e superam as leis com as próprias vidas.
11 Amam todos e por todos são perseguidos.
12 Não são reconhecidos, mas são condenados à morte; são condenados à morte e ganham a vida.
13 São pobres, mas enriquecem muita gente; de tudo carecem, mas em tudo abundam.
14 São desonrados, e nas desonras são glorificados; injuriados, são também justificados.
15 Insultados, bendizem; ultrajados, prestam as devidas honras.
16 Fazendo o bem, são punidos como maus; fustigados, alegram-se, como se recebessem a vida.
17 São hostilizados pelos Judeus como estrangeiros; são perseguidos pelos Gregos,
e os que os odeiam não sabem dizer a causa do ódio.

VI. 1 Numa palavra, o que a alma é no corpo, isso são os cristãos no mundo.
2 A alma está em todos os membros do corpo
e os cristãos em todas as cidades do mundo.
3 A alma habita no corpo, não é, contudo, do corpo;
também os cristãos, se habitam no mundo, não são do mundo.
4 A alma invisível vela no corpo visível;
Também os cristãos sabe-se que estão neste mundo, mas a sua religião permanece invisível.
5 A carne odeia a alma, e, apesar de não a ter ofendido em nada, faz-lhe a guerra, só porque se lhe opõe a que se entregue aos prazeres; da mesma forma, o mundo odeia os cristãos que não lhe fazem nenhum mal, porque se opõem aos seus prazeres.
6 A alma ama a carne, que a odeia, e os seus membros;
Também os cristãos amam os que os odeiam.
7 A alma está encerrada no corpo, é todavia ela que sustém o corpo.
Também os cristãos se encontram retidos no mundo como em cárcere, mas são eles que sustêm o mundo.
8 A alma imortal habita numa tenta mortal;
Também os cristãos habitam em tendas mortais, esperando a incorrupção nos céus.
9 Provada pela fome e pela sede, a alma vai-se melhorando; também os cristãos, fustigados dia-a-dia, mais se vão multiplicando.
10 Deus pô-los numa tal situação, que lhes não é permitido evadir-se.

VII.1 Não foi, pois, como dizia, uma invenção terrena esta que lhes foi transmitida, nem, deste modo, professam guardar com tal cuidado uma ideia mortal, nem é a administração de mistérios humanos que lhes é confiada.
2 Mas o próprio, verdadeiramente Omnipotente, o Criador de todas as coisas, o Deus invisível, ele próprio enviando do alto dos céus a Verdade, o seu Verbo santo e incompreensível aos homens que inseriu nos seus corações: não, como alguém poderia imaginar, que tenha enviado aos homens algum subordinado, anjo ou arconte, ou algum dos que governam as coisas terrenas, ou daqueles a quem foram confiadas as administrações dos céus, mas o próprio Artífice e Demiurgo de todas as coisas, por quem fundou os céus, encerrou os mares nos seus próprios limites; cujos mistérios todos os elementos guardam fielmente; da parte do qual o sol recebeu as medidas a observar no seu curso quotidiano; ao qual a Lua obedece, quando lhe ordena que brilhe durante a noite; aoqual obedecem os astros que acompanham o curso da Lua; Por ele todas as coisas foram ordenadas, delimitadas e submetidas: os céus e o que há nos céus; a terra e as coisas que há na terra; o mar e tudo o que há no mar; o fogo, o ar e os abismos; as coisas que há nas alturas e nas profundezas e no espaço intermédio: foi Ele que Deus lhes enviou. 
3 Acaso, como algum dos homens pensaria, na tirania, no temor e no pavor?  
4 De modo nenhum, mas enviou-o na clemência e na doçura, como um Rei que enviou o Filho Rei, enviou-o como Deus. Como Homem enviou-o aos homens: enviou-o para salvar, pela persuasão e não pela força. Efectivamente, a violência não se ajusta a Deus.  
5 Enviou-o como quem chama, não como quem persegue; enviou-o como quem ama, não como quem condena.  
6 Efectivamente, enviá-lo-á para julgar. E quem suportará a Sua manifestação?
7 (Não vês) que são lançados às feras, para que neguem o Senhor, e não se deixam vencer? 8 Não vês que quanto mais perseguidos são, mais numerosos se tornam? 
9 Estas coisas não me parece que sejam obras do homem: elas são força de Deus, elas são manifestações da Sua presença.
Anónimo

sábado, 26 de janeiro de 2013

Educar... para quê?

Quino, o caricaturista argentino autor de Mafalda, desiludido com o rumo que está a tomar o mundo no que diz respeito aos valores e à educação, expressou o seu sentimento com esta caricatura… Brilhante! 

A genialidade do artista produz uma das melhores críticas sobre a educação dos filhos nos tempos actuais… Pais de família, mestres, amigos: reflictamos sobre a forma como estamos a educar. Partilha com os teus amigos…

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Já leste São Paulo?



Numa daquelas frases inesquecíveis que cunhou, Paulo de Tarso escreve: «quando sou fraco, então é que sou forte» (2 Cor 12,10). E a nossa pergunta vem imediata: “que homem enigmático é este que revolve a ordem esperada das coisas, elogiando a fragilidade em vez da força?”. A verdade é que quem pretenda tornar-se leitor de Paulo tem de adequar o ouvido e o coração a uma linguagem paradoxal, que nos desconcerta, nos comove e nos forma. A gramática que ele utiliza (isto é, o seu modo de pensar e de dizer) estilhaça as convenções. A tradição judaica olhou para a pregação dele com suspeita e escândalo. Os gregos e os romanos, habituados à sofisticação do pensamento e ao poder da retórica, menosprezaram o seu discurso que lhes parecia uma loucura. E, mesmo hoje, passados dois mil anos do seu nascimento, o seu discurso não deixa de ressoar profético e desafiador. (...)



Esse enigma chamado Paulo

Um consenso muito amplo, que reúne as mais antigas tradições cristãs e os recentes dados das ciências hermenêuticas e históricas, afirma claramente que as Cartas de Paulo são os primeiros escritos cristãos que chegaram até nós. Esperar-se-ia que a nossa cultura, que vibra com a arqueologia das origens e o retorno às fontes, nos tivesse impelido para uma apropriação apaixonada e competente desse conjunto de textos fundamentais da identidade crente. Há que reconhecer, porém, que o grande Paulo permanece um autor desconhecido, mal amado e distante, mesmo para a maioria dos cristãos.


O uso litúrgico aproxima-nos, evidentemente, dos seus textos, lidos e relidos ao longo do ano. Mas a verdade é que, no contexto litúrgico, leem-se trechos selecionados ou sublinham-se frases teológicas, demasiado densas para o desbravar, necessariamente contido, de uma celebração. E, claro, os detalhes concretos que conferem unidade a cada carta são frequentemente deixados de parte. Como dizia o escritor Oscar Wilde, acerca dos limites do nosso conhecimento das Escrituras, «ouvimos lê-las demasiadas vezes, e mal demais, e toda a repetição é antiespiritual». Mas também é verdade que permanece inquebrável e sempre atual a certeza de que a vitalidade da Igreja não se constrói sem o recurso ao pensamento de Paulo. Tornou-se uma espécie de slogan dizer que “Sempre que a Igreja é relevante, ela é Paulina”, e há aí muito de razão. Basta pensar na fecunda redescoberta, cheia de consequências, que a Teologia fez de São Paulo no século XX e que deixou uma marca decisiva no Concílio Vaticano II. Por isso, mesmo se Paulo não é ainda conhecido de maneira sistemática pelos cristãos, a verdade é que as suas palavras e imagens dão-nos já o melhor retrato daquilo que é o mistério da Igreja e da própria existência cristã.



A reativação dos escritos de Paulo

Para chegar a Paulo é preciso atravessar uma floresta de ideias-feitas e preconceitos. Paulo é, como hoje se diz, um autor com “má imprensa”. É corrente ouvir que ele é um legalista, que perpetuou modelos patriarcais que desvalorizavam as mulheres, que tem uma fobia às questões do corpo e da sexualidade, que é um conservador em termos sociais, etc, etc. Já no séc. XIX, Ernest Renan escrevia num best-seller sobre Jesus: «O verdadeiro cristianismo, aquele que perdurará para sempre, vem dos Evangelhos e não das 13 cartas de Paulo. Paulo é um perigo, um escolho… Paulo é a causa dos principais defeitos da teologia cristã». E essa opinião deixou sementes. Muitas vezes se vê opor-se a linguagem de Jesus, parabólica e aberta, ao discurso teológico e pretensamente estreito de Paulo, num conflito de interpretações superficial e descabido.


Mas também se dá um facto paradoxal: multiplicam-se hoje os ensaios e leituras sobre Paulo e as suas Cartas, por parte de importantes nomes do pensamento contemporâneo. Se é verdade que, de Santo Agostinho a Lutero, de Karl Barth ao nosso Teixeira de Pascoaes, na teologia, na filosofia, nas expressões iconográficas ou na literatura, a pessoa e o pensamento de Paulo nunca deixaram de ser referenciais, também é verdade a surpreendente efervescência do panorama atual. O filósofo Alain Badiou publicou, no início dos anos 90, uma reflexão entusiasta sobre a figura de Paulo a que intitulou “São Paulo. A fundação do Universalismo”. A universalidade que Paulo prega não vem do que é já inerente e consubstancial ao indivíduo (a sua pertença a uma família, a una nação, a uma língua… traços que são necessariamente particularistas), mas de um Evento. O que produz a verdade sobre o homem e sobre todos os homens é agora um Evento e uma Proclamação que contrastam com a multiplicidade dos particularismos: a Morte e a Ressurreição de Jesus. A verdadeira universalidade constrói-se no compromisso com esse acontecimento que para Paulo é a chave de toda a história.

Em 1998, o filósofo italiano Giorgio Agamben orientou um seminário no Colégio internacional de filosofia, em Paris, onde escolheu comentar a Carta de São Paulo aos Romanos, porque, segundo ele, a hora da plena legibilidade dos escritos de Paulo finalmente chegou. A tese de Agamben é que, para Paulo, Cristo, sendo a finalidade da Lei, também representa o seu fim (término). A consequência é que o tempo messiânico pode deslocar os referentes do mundo: o que até aqui era a norma ou o quadro social deixa de valer só por si. O tempo messiânico é um estado de exceção que permite a transfiguração do mundo, a sua revisão.


Ainda mais recentemente, o filósofo esloveno Slavoj Žižek tem tornado a Paulo. 

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Escutar o Absoluto no Ano da Fé: Bach (1)

O auditório da Renascença, em Lisboa, recebeu a 11 de janeiro a segunda sessão do ciclo "Escutar o Absoluto no Ano da Fé", integralmente dedicada ao compositor alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750).
Os cinco encontros, coordenados por Aura Miguel, jornalista da Renascença, e pelo padre italiano Raffaele Cossa, da Fraternidade Sacerdotal dos Missionários de S. Carlos Borromeu, intercalam intervenções sobre os músicos selecionados com peças da sua autoria, habitualmente em vídeo.
O Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura apresenta a a sessão sobre Bach, baseada no tema "A consistência da fé".
Entre os episódios curiosos da vida do compositor narrados nesta primeira parte inclui-se aquele que conta que Bach, aos 13 anos, levantava-se durante a noite e ia secretamente à sala buscar o "caderno proibido", com pautas supostamente demasiado avançadas para a sua técnica, que depois de devidamente copiadas eram logo interpretadas.

1.ª parte
O excerto musical proposto no primeiro vídeo é a Tocata e Fuga em Ré Menor, atribuída a Bach quando tinha 18 anos.

2.ª parte
Despedido depois de ausentar-se quatro meses do trabalho para ouvir Buxtehude, quando tinha combinado com o seu empregador um afastamento de apenas quatro semanas, Bach viajou para Weimar, onde conheceu a obra dos grandes compositores italianos, como Vivaldi, Albinoni, Corelli.
A sua sede de conhecimento levava-o a transcrever para órgão as obras dos mestres transalpinos. Neste vídeo propomos a audição de um excerto de um concerto de Vivaldi, seguido pela transcrição para o "rei dos instrumentos" feita por Bach. 
3.ª parte
Imaginemos uma praça que ao domingo se enche de gente, falando entre si com grande alegria e vontade de viver: eis o Concerto de Brandeburgo n.º 3, de que se apresenta um excerto «vertiginoso».

4.ª parte
Prosseguimos o percurso por obras que não se centram explicitamente no sagrado. A primeira proposta de audição continua o ritmo alucinante do vídeo anterior. Mas logo a seguir entramos num mundo diferente: das orquestras passamos aos instrumentos a solo e a impetuosidade dá lugar à profundidade.

In http://www.snpcultura.org

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Porta Aberta - Encontro dia 23 de Janeiro



O próximo encontro do PORTA ABERTA é já no dia 23 de Janeiro, quarta feira, às 21h30, no Centro Pastoral.

 SANTO ADRIÃO - com a seguinte tema ou questão: 

BÍBLIA, o que é?
O que conta? Como a devemos ler?
È tudo verdade o que lá está escrito?

Adão e Eva foram realmente as primeiras pessoas que Deus criou?
Se sim, como é possível esta geração ser formada de homens e mulheres, quando Adão e Eva forma pais de dois rapazes Abel e Caim? 
E se um matou o outro, como se constituiu a família?