quinta-feira, 28 de março de 2013

Semana Santa APRENDER A SAIR DE NÓS MESMOS - Primeira Audiência Geral do Papa Francisco


Quarta-feira, Março 27, 2013

Irmãos e irmãs, bom dia!
Tenho o prazer de acolher-vos nesta minha primeira Audiência Geral. Com grande reconhecimento e veneração acolho o “testemunho” das mãos do meu amado predecessor Bento XVI. Depois da Páscoa retomaremos as catequeses do Ano da Fé. Hoje gostaria de concentrar-me um pouco sobre a Semana Santa. Com o Domingo de Ramos iniciamos esta Semana – centro de todo o Ano Litúrgico – na qual acompanhamos Jesus durante a sua Paixão, Morte e Ressurreição.

Mas o que pode querer dizer viver a Semana Santa para nós? O que significa seguir Jesus no seu caminho no Calvário para a Cruz e a ressurreição? Na sua missão terrena, Jesus percorreu os caminhos da Terra Santa; chamou 12 pessoas simples para que permanecessem com Ele, compartilhando o seu caminho, e para que continuassem a sua missão; escolheu-as entre o povo cheio de fé nas promessas de Deus. Falou a todos, sem distinção, aos grandes e aos humildes, ao jovem rico e à pobre viúva, aos poderosos e aos indefesos; levou a misericórdia e o perdão de Deus; curou, consolou, compreendeu; deu esperança; a todos levou a presença de Deus que se interessa por cada homem e cada mulher, como faz um bom pai e uma boa mãe para cada um de seus filhos.

Deus não esperou que fôssemos a Ele, mas foi Ele que se moveu para nós, sem cálculos, sem medidas. Deus é assim: Ele dá sempre o primeiro passo, Ele move-se na nossa direcção. Jesus viveu a realidade quotidiana do povo mais comum: comoveu-se diante da multidão que parecia um rebanho sem pastor; chorou diante do sofrimento de Marta e Maria pela morte do irmão Lázaro; chamou um cobrador de impostos como seu discípulo; sofreu também a traição dum amigo. Nele, Deus deu-nos a certeza de que está connosco, no meio de nós. “As raposas – disse Ele – têm as suas tocas e as aves do céu os seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8, 20). Jesus não tem casa porque a sua casa é o povo, somos nós, a sua missão é abrir a todos as portas de Deus, ser a presença do amor de Deus.

Na Semana Santa vivemos o ápice deste momento, deste plano de amor que percorre toda a história da relação entre Deus e a humanidade. Jesus entra em Jerusalém para cumprir o último passo, no qual reassume toda a sua existência: doa-se totalmente, não tem nada para si, nem mesmo a vida. Na Última Ceia, com os seus amigos, compartilha o pão e distribui o cálice “por nós”. O Filho de Deus oferece-se a nós, entrega nas nossas mãos o seu Corpo e o seu Sangue, para estar sempre connosco, para morar no meio de nós. E no Monte das Oliveiras, como no processo diante de Pilatos, não oferece resistência, doa-se; é o Servo sofredor profetizado por Isaías que se despojou até a morte (cfr Is 53,12).

Jesus não vive este amor que conduz ao sacrifício de modo passivo ou como um destino fatal; é certo que  não esconde a sua profunda inquietação humana diante da morte violenta, mas confia plenamente no Pai. Jesus entregou-se voluntariamente à morte para corresponder ao amor de Deus Pai, em perfeita união com a sua vontade, para demonstrar o seu amor por nós. Na cruz Jesus “amou-me e entregou-se a si mesmo” (Gal 2,20). Cada um de nós pode dizer: amou-me e entregou-se a si mesmo por mim. Cada um pode dizer este “por mim”.

O que significa tudo isto para nós? Significa que este é também o meu, o teu, o nosso caminho. Viver a Semana Santa seguindo Jesus não somente com a emoção do coração; viver a Semana Santa seguindo Jesus quer dizer aprender a sair de nós mesmos, para ir ao encontro dos outros, para ir para as periferias da existência, mover-nos primeiro para os nossos irmãos e as nossas irmãs, sobretudo aqueles mais distantes, aqueles que são esquecidos, aqueles com maior necessidade de compreensão, de consolação, de ajuda. Há tanta necessidade de levar a presença viva de Jesus misericordioso e rico de amor!

Viver a Semana Santa é entrar sempre mais na lógica de Deus, na lógica da Cruz, que não é antes de tudo aquela da dor e da morte, mas aquela do amor e da doação de si que traz vida. É entrar na lógica do Evangelho. Seguir, acompanhar Cristo, permanecer com Ele exige um “sair”, sair. Sair de si mesmo, de um modo cansado e rotineiro de viver a fé, da tentação de fechar-se nos próprios padrões que terminam por fechar o horizonte da acção criativa de Deus. Deus saiu de si mesmo para vir ao meio de nós, colocou a sua tenda entre nós para nos trazer a sua misericórdia, que salva e dá esperança. Também nós, se desejamos segui-Lo e permanecer com Ele, não devemos contentar-nos em permanecer no recinto das 99 ovelhas, devemos “sair”, procurar com Ele a ovelha perdida, aquela mais distante. Lembrem-se bem: sair de nós mesmos como Deus saiu de si mesmo em Jesus e Jesus saiu de si mesmo por todos nós.

Alguém poderia dizer-me: “Mas, padre, não tenho tempo”, “tenho tantas coisas a fazer”, “é difícil”, “o que posso fazer com as minhas poucas forças, também com o meu pecado, com tantas coisas?”. Sempre nos contentamos com alguma oração, com uma Missa dominical distraída e não constante, com qualquer gesto de caridade, mas não temos esta coragem de “sair” para levar Cristo. Somos um pouco como Pedro. Assim que Jesus fala de paixão, morte e ressurreição, de doação de si, de amor para todos, o Apóstolo afasta-o e repreende-o. Aquilo que diz Jesus perturba os seus planos, parece inaceitável, coloca em dificuldade as seguranças que se havia construído, a sua ideia de Messias. E Jesus olha para os discípulos e dirige a Pedro talvez uma das palavras mais duras dos Evangelhos: “Afasta-te de mim, Satanás, porque os teus sentimentos não são os de Deus, mas os dos homens” (Mc 8, 33).

Deus pensa sempre com misericórdia: não se esqueçam disso. Deus pensa sempre com misericórdia: é o Pai misericordioso! Deus pensa como o pai que espera o retorno do filho e vai ao seu encontro, vê-lo vir quando ainda é distante…O que isto significa? Que todos os dias ia ver se o filho retornava a casa: este é o nosso Pai misericordioso. É o sinal que o esperava de coração no terraço de sua casa. Deus pensa como o samaritano que não passa próximo à vítima olhando por outro lado, mas socorre-a sem pedir nada em troca; sem perguntar se ele era judeu, se era pagão, se era samaritano, se era rico, se era pobre: não pergunta nada. Não pergunta essas coisas, não pergunta nada. Vai em seu auxílio: assim é Deus. Deus pensa como o pastor que dá a sua vida para defender e salvar as ovelhas.

A Semana Santa é um tempo de graça que o Senhor nos dá para abrir as portas do nosso coração, da nossa vida, das nossas paróquias – que pena tantas paróquias fechadas! – dos movimentos, das associações, e “sair” de encontro aos outros, fazer-nos próximos para levar a luz e a alegria da nossa fé. Sair sempre! E isto com amor e com a ternura de Deus, no respeito e na paciência, sabendo que nós colocamos as nossas mãos, os nossos pés, o nosso coração, mas em seguida é Deus que os orienta e torna fecunda cada acção nossa.

Desejo que todos vivam bem estes dias, seguindo o Senhor com coragem, levando em nós mesmos um rasgo do seu amor a quantos encontrarmos.


terça-feira, 19 de março de 2013

Homilia do Papa Francisco na Santa Missa Inaugural do Ministério Petrino

SANTA MISSA
IMPOSIÇÃO DO PÁLIO
E ENTREGA DO ANEL DO PESCADOR
PARA O INÍCIO DO
MINISTÉRIO PETRINO
DO BISPO DE ROMA HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Praça de São Pedro
Terça-feira, 19 de março de 2013
Solenidade de São José


  

Queridos irmãos e irmãs!
Agradeço ao Senhor por poder celebrar esta Santa Missa de início do ministério petrino na solenidade de São José, esposo da Virgem Maria e patrono da Igreja universal: é uma coincidência densa de significado e é também o onomástico do meu venerado Predecessor: acompanhamo-lo com a oração, cheia de estima e gratidão.
Saúdo, com afeto, os Irmãos Cardeais e Bispos, os sacerdotes, os diáconos, os religiosos e as religiosas e todos os fiéis leigos. Agradeço, pela sua presença, aos Representantes das outras Igrejas e Comunidades eclesiais, bem como aos representantes da comunidade judaica e de outras comunidades religiosas. Dirijo a minha cordial saudação aos Chefes de Estado e de Governo, às Delegações oficiais de tantos países do mundo e ao Corpo Diplomático.
Ouvimos ler, no Evangelho, que «José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor e recebeu sua esposa» (Mt 1, 24). Nestas palavras, encerra-se já a missão que Deus confia a José: ser "custos", guardião. Guardião de quem? De Maria e de Jesus, mas é uma guarda que depois se alarga à Igreja, como sublinhou o Beato João Paulo II: «São José, assim como cuidou com amor de Maria e se dedicou com empenho jubiloso à educação de Jesus Cristo, assim também guarda e protege o seu Corpo místico, a Igreja, da qual a Virgem Santíssima é figura e modelo» (Exort. ap. Redemptoris Custos, 1).

quinta-feira, 14 de março de 2013

Do fumo branco à bênção "Urbi et Orbi" do papa Francisco: (re)veja o filme que fica para a História

«Irmãos e irmãs, boa-noite!
Vós sabeis que o dever do Conclave era dar um Bispo a Roma. Parece que os meus irmãos Cardeais foram buscá-lo quase ao fim do mundo… Eis-me aqui! Agradeço-vos o acolhimento: a comunidade diocesana de Roma tem o seu Bispo. Obrigado! E, antes de mais nada, quero fazer uma oração pelo nosso Bispo emérito Bento XVI. Rezemos todos juntos por ele, para que o Senhor o abençoe e Nossa Senhora o guarde.
[Recitação do Pai Nosso, Ave Maria e Glória]
E agora iniciamos este caminho, Bispo e povo... este caminho da Igreja de Roma, que é aquela que preside a todas as Igrejas na caridade. Um caminho de fraternidade, de amor, de confiança entre nós.
Rezemos sempre uns pelos outros. Rezemos por todo o mundo, para que haja uma grande fraternidade. Espero que este caminho de Igreja, que hoje começamos e no qual me ajudará o meu Cardeal Vigário, aqui presente, seja frutuoso para a evangelização desta cidade tão bela!
E agora quero dar a bênção, mas antes… antes, peço-vos um favor: antes de o Bispo abençoar o povo, peço-vos que rezeis ao Senhor para que me abençoe a mim; é a oração do povo, pedindo a bênção para o seu Bispo. Façamos em silêncio esta oração vossa por mim.
[…]
Agora dar-vos-ei a bênção, a vós e a todo o mundo, a todos os homens e mulheres de boa vontade.
[Bênção]
Irmãos e irmãs, tenho de vos deixar. Muito obrigado pelo acolhimento! Rezai por mim e até breve! Ver-nos-emos em breve: amanhã quero ir rezar aos pés de Nossa Senhora, para que guarde Roma inteira. Boa noite e bom descanso!» (primeiras palavras do papa Francisco ao mundo)

Versão curta (anúncio e primeiras palavras do papa Francisco) 

Versão longa (do fumo branco à bênção "Urbi et Orbi")

Papa Francisco: perfil de um papa que lê Dostoievski e Borges, ouve muito, fala pouco e faz da pobreza um combate

De acordo com uma informação nunca confirmada nem desmentida pelo próprio, o cardeal Jorge Maria Bergoglio teria recolhido cerca de 40 votos aquando do conclave de 2005, o suficiente para bloquear a eleição de Joseph Ratzinger, antes de deixar entender que não desejava ser eleito.
Oito anos mais tarde tudo mudou: Bergoglio tornou-se o primeiro papa latino-americano e o primeiro Jesuíta. E foi com naturalidade que a sua proximidade com os pobres o fez escolher o nome de Francisco.
Nascido em 1936 em Buenos Aires, numa família modesta de imigrantes italianos cujo pai era funcionário nos caminhos de ferro, Jorge Mario cresceu na escola pública antes de iniciar os estudos de técnico químico. Mais tarde voltou-se para o sacerdócio, amadurecendo a sua vocação no laboratório onde trabalhava. Entra no noviciado da Companhia de Jesus em 1958.
Após a ordenação em 1969 os estudos conduziram-no ao Chile e à Argentina, onde faz a profissão perpétua em 1973, antes de voltar para a Argentina, primeiro como mestre de noviços e depois como responsável máximo (provincial) pelos Jesuítas no país.
Foram anos difíceis, marcados pela ditadura e pelas divisões dos Jesuítas em relação à teologia da libertação. As vocações diminuem. Seis anos mais tarde, preocupado em manter a não politização dos religiosos, deixa uma província pacificada e novas vocações.
Reitor das faculdades jesuítas de teologia e filosofia de Buenos Aires, e pároco na capital argentina desde 1980, parte para a Alemanha em 1986 para terminar a sua tese de doutoramento em Friburgo. Regressa à Argentina como pároco: em Córdoba, 700 km a oeste da capital, junto à serra, depois em Mendoza, perto da fronteira com o Chile.
Em 1992 João Paulo II nomeia-o bispo auxiliar de Buenos Aires, e em 1997 coadjutor da arquidiocese, de que toma posse no ano seguinte, na sequência da morte do cardeal Antonio Quarracino. Dias antes de falecer, o prelado traçava o retrato de Bergoglio: «homem discreto e muito eficaz, fiel à Igreja e muito próximo dos padres e dos católicos».
Asceta e austero, o novo arcebispo ignora a pomposa residência episcopal da capital argentina para viver sozinho num pequeno apartamento perto da catedral e recusa carro com condutor em detrimento do autocarro e do metro.
Apesar da saúde frágil – extraíram-lhe parte do pulmão direito aos 20 anos – leva uma vida ascética e levanta-se às 4h30 da manhã para um dia de trabalho que começa sempre pela demorada leitura de uma imprensa a quem não deu mais que uma entrevista. O novo papa é conhecido por falar pouco mas ouvir muito.
Grande leitor, sobretudo de romances russos, com Dostoievsky à cabeça, e o seu compatriota Borges, aprecia também ópera e é um fervoroso adepto do San Lorenzo, um dos grandes clubes da capital argentina, fundado em 1908 por um padre.
Dos seus anos de pároco em Buenos Aires e na montanha guardou um forte sentido pastoral. Não desdenha confessar regularmente na sua catedral e faz tudo para estar próximo dos seus padres, para quem abriu uma linha telefónica direta. Não é raro vê-lo tomar uma sandes ao pequeno-almoço num restaurante com um dos seus sacerdotes.
Em 2009 não hesitou ir morar num bairro de barracas, em casa de um dos seus padres, então ameaçado de morte pelos traficantes de droga.
Em 2001 foi criado cardeal por João Paulo II. No mesmo ano a sua humildade impressionou os participantes no sínodo sobre o papel do bispo, em que foi relator adjunto, em substituição do cardeal Egan, arcebispo de Nova Iorque, chamado à cidade por causa dos atentados de 11 de setembro.
Tendo feito da pobreza um dos seus combates, este crítico aceso do neoliberalismo e da globalização tornou-se uma autoridade moral incontestável na Argentina e no exterior. Ao ponto de ser hoje, num país onde a oposição política é quase inexistente, a única verdadeira força a opor-se ao regime de Kirchner, de que não cessa de denunciar o autoritarismo.
Em 2005 a imprensa aliada de Kirchner acusou o padre Bergoglio, provincial dos Jesuítas durante a ditadura, de ter denunciado dois dos seus religiosos, que foram presos e torturados. Outros testemunhos, pelo contrário, lembram as energias que despendeu para conseguir a sua libertação.

Nicolas Senèze, In La Croix
 Trad.: rjm 

Novo papa - Francisco (biografia breve)

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Jorge Mario Bergoglio, de 76 anos, jesuíta, foi até agora arcebispo de Buenos Aires; consta-se que no último conclave terá sido o mais votado depois de Ratzinger (Bento XVI).
O 266.º papa nasceu em Buenos Aires a 17 de dezembro de 1936. Licenciou-se como técnico químico e mais tarde entrou no seminário.
A 11 de março de 1958 entrou no noviciado da Companhia de Jesus (Jesuítas). Estudou no Chile e em 1963, de regresso à capital argentina, obteve a licenciatura em Filosofia.
De 1964 a 1966 foi professor de literatura e psicologia.
Entre 1967 e 1970 estudou e concluiu o curso de teologia.
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Foi ordenado padre a 13 de dezembro de 1969, a poucos dias de fazer 33 anos.
A 22 de abril de 1973 fez a profissão definitiva junto dos Jesuítas.
Foi mestre de noviços, professor na Faculdade de Teologia, consultor provincial e reitor de colégio.
A 31 de julho de 1973 foi eleito responsável máximo (provincial) da Companhia de Jesus na Argentina, cargo que desempenhou durante seis anos.
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De 1980 a 1986 foi reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de S. José, em S. Miguel.
Em março de 1986 foi para a Alemanha para terminar o doutoramento.
A 20 de maio de 1992 João Paulo II nomeou-o bispo auxiliar de Buenos Aires. Recebeu a ordenação episcopal a 27 de junho na catedral local.
Foi nomeado arcebispo coadjutor de Buenos Aires a 3 de junho de 1997. A 28 de fevereiro de 1998 sucede na arquidiocese ao cardeal Quarracino.
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É autor dos livros "Meditações para religiosos" (1982), "Reflexões sobre a vida apostólica" (1986) e "Reflexões de esperança" (1992).
É o Ordinário para os fiéis de rito oriental residentes na Argentina que não podem contar com um Ordinário do seu rito.
É Grande Chanceler da Universidade Católica Argentina.
Foi relator geral adjunto ao Sínodo dos Bispos de 2001, no Vaticano.
De novembro de 2005 a novembro de 2011 foipresidente da Conferência Episcopal Argentina.
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Foi criado cardeal por João Paulo II no consistório de 21 de fevereiro de 2001.
É membro das seguintes congregações da Cúria Romana: Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos; Clero; Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica.
É membro do Pontifício Conselho da Família e da Pontifícia Comissão para a América Latina. 

Rui Jorge Martins
© SNPC | 13.03.13

sexta-feira, 8 de março de 2013

As mulheres na vida da Igreja e do mundo - Bento XVI

No Dia Internacional da Mulher, recordamos excertos de algumas das reflexões sobre santas da Idade Média e Renascimento que o papa emérito Bento XVI proferiu nas audiências gerais de quarta-feira realizadas em 2010 e 2011.

Santa Hildegarda de Bingen
As visões místicas de Hildegarda são ricas de conteúdos teológicos. Referem-se aos eventos principais da história da salvação e utilizam uma linguagem sobretudo poética e simbólica. Por exemplo, na sua obra mais conhecida, denominada Scivias, isto é «Conhece as vias», ela resume em trinta e cinco visões os acontecimentos da história da salvação, desde a criação do mundo até ao fim dos tempos. Com os traços característicos da sensibilidade feminina, Hildegarda, exatamente na secção central da sua obra, desenvolve o tema do matrimónio místico entre Deus e a humanidade, realizado na Encarnação. No madeiro da Cruz realizam-se as núpcias do Filho de Deus com a Igreja, sua esposa, cheia de graça e tornada capaz de doar a Deus novos filhos, no amor do Espírito Santo (cf. Visio tertia: PL 197, 453c).
Já destes breves trechos vemos que também a teologia pode receber uma contribuição peculiar das mulheres, porque são capazes de falar de Deus e dos mistérios da fé com a sua singular inteligência e sensibilidade. Portanto, encorajo todas aquelas que desempenham este serviço a realizá-lo com profundo espírito eclesial, alimentando a própria reflexão com a oração e olhando para a grande riqueza, ainda em parte inexplorada, da tradição mística medieval, sobretudo a representada por modelos luminosos, justamente como Hildegarda de Bingen. (...)
Noutros escritos Hildegarda manifesta a versatilidade de interesses e a vivacidade cultural dos mosteiros femininos da Idade Média, contrariamente aos preconceitos que ainda pesam sobre aquela época. Hildegarda ocupou-se de medicina e de ciências naturais, inclusive de música, sendo dotada de talento artístico. Compôs hinos, antífonas e cânticos, que foram reunidos sob o título Symphonia Harmoniae Caelestium Revelationum (Sinfonia da harmonia das revelações celestiais), que eram executados jubilosamente nos seus mosteiros, difundindo uma atmosfera de serenidade, e que chegaram até nós. Para ela, toda a criação é uma sinfonia do Espírito Santo, que é alegria e júbilo em si mesmo.
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A popularidade que circundava Hildegarda impulsionava muitas pessoas a interpelá-la. Por este motivo, dispomos de muitas suas cartas. A ela dirigiam-se comunidades monásticas masculinas e femininas, bispos e abades. Muitas respostas permanecem válidas inclusive para nós.

Não tenhamos medo de amar a Igreja do presente e aquela que gostaríamos que fosse no futuro - Eleição do novo papa

Cardeal português José Saraiva Martins 7.3.2013 Foto: AP Photo/Alessandra Tarantino - Na Praça de São Pedro, no Vaticano, após reunião do Colégio Cardinalício que antecede o conclave para a eleição do sucessor de Bento XVI.
Eleição do novo papa

Quando fiz reportagem no Vaticano dos conclaves de 1978, que elegeu João Paulo II, e de 2005, com a escolha de Bento XVI, não faltavam “adivinhações” dos jornalistas. Alguns citavam circunspectos dossiês de estudiosos que sonhavam influenciar os cardeais eleitores, indicando-lhes as reformas mais urgentes na Igreja.
Em síntese, naqueles tempos, sobretudo em 1978, as propostas que o novo Papa deveria ter na agenda, logo nos seus 100 dias de pontificado, eram as seguintes: abolir as nunciaturas; fazer eleger os bispos nas respetivas regiões eclesiásticas; conferir poderes deliberativos aos sínodos dos bispos; instituir no vértice da Igreja um órgão colegial que, sob a presidência pessoal e efetiva do Papa, tratasse, pelo menos duas vezes por semana, os problemas que se põem à Igreja no seu conjunto, tomando as decisões oportunas.
Em destaque estava ainda libertação do medo da revolução sexual, renovando a moral cristã nesse campo.
Propostas idênticas voltaram a emergir em 2005, quando foi eleito Bento XVI.
João Paulo II e Bento XVI não seguiram tais conselhos.
Nada disso impede que idênticos sonhos se projetem agora para o novo conclave.
Logo à cabeça, a reforma da Cúria romana, mudando a ideia e a prática de governo pela de serviço.
Respeito pelo princípio da subsidiariedade, que a Igreja tanto recomenda à sociedade civil, sem o aplicar dentro de casa, como já defendia Pio XII, sem menosprezo da sua estrutura hierárquica.
O exercício da autoridade na Igreja funciona mal quando não se respeita a colegialidade. O poder deve ser um carisma de serviço. Não é bom bispo ou bom padre aquele que não sabe estimular todos os dons do povo de Deus, na diversidade vocacional e ministerial.
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Cardeal francês Paul Poupard, primeiro presidente do Pontifício Conselho da Cultura. Vaticano, 7.3.2013. Foto: REUTERS/Alessandro Bianchi

Mais do que discutirmos se o Concílio Vaticano II deve ser interpretado na hermenêutica da continuidade ou da descontinuidade, será importante redescobri-lo como quem encontra o seu tesouro. A pedra preciosa pode ser a função eclesial da Teologia, que não tem de dar a ideia que perdeu vitalidade e criatividade ou se enreda nos aparentes ou reais conflitos com o magistério eclesial, universal ou local.
O peso europeu ou americano não pode esmagar a Igreja emergente nos países em vias de desenvolvimento, onde os cristãos não sofrem os males do secularismo e estão a crescer.
Moral da história deste apontamento ligeiro, mais virtual do que real: na expectativa da eleição do novo Papa, é natural que nos interroguemos para onde vai a Igreja e para onde é que nós queremos ir.
A Igreja não é uma corporação, mas um corpo vivo cuja vitalidade se exprime na comunhão do Espírito. Não tenhamos medo de amar a Igreja que somos no presente, a que gostaríamos que ela fosse já e no futuro, correspondendo mais e melhor àquela que Deus mais gosta que ela seja.
Foto 
O cardeal francês Philippe Barbarin percorre de bicicleta a Praça de São Pedro, no Vaticano, após uma reunião do Colégio Cardinalício. 6.3.2013. Foto: AP Photo/Alessandra Tarantino

Cón. Rui Osório
In Voz Portucalense, 6.3.2013

sábado, 2 de março de 2013

Concerto/Oração - Per Crucem

 
NOVA MATRIZ, SANTO ADRIAO, 
VILA NOVA DE FAMALICÃO, 
SÁBADO DIA 9 DE MARÇO 2013

 PER CRUCEM - Momento de Música e Palavra pelo Grupo CANTATA.pt com a cooperação da Comunidade Cristo de Betânea: Meditação sobre a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus.
 
Resurrectio Domini, spes nostra – a ressurreição de Cristo é a nossa esperança! É isto que a Igreja proclama hoje com alegria: anuncia a esperança, que Deus tornou inabalável e invencível ao ressuscitar Jesus Cristo dos mortos; comunica a esperança, que ela traz no coração e quer partilhar com todos, em todo o lugar.