Eleição do novo papa
Quando fiz reportagem no Vaticano dos conclaves
de 1978, que elegeu João Paulo II, e de 2005, com a escolha de Bento
XVI, não faltavam “adivinhações” dos jornalistas. Alguns citavam
circunspectos dossiês de estudiosos que sonhavam influenciar os
cardeais eleitores, indicando-lhes as reformas mais urgentes na Igreja.
Em síntese, naqueles tempos, sobretudo em 1978,
as propostas que o novo Papa deveria ter na agenda, logo nos seus 100
dias de pontificado, eram as seguintes: abolir as nunciaturas; fazer
eleger os bispos nas respetivas regiões eclesiásticas; conferir poderes
deliberativos aos sínodos dos bispos; instituir no vértice da Igreja
um órgão colegial que, sob a presidência pessoal e efetiva do Papa,
tratasse, pelo menos duas vezes por semana, os problemas que se põem à
Igreja no seu conjunto, tomando as decisões oportunas.
Em destaque estava ainda libertação do medo da revolução sexual, renovando a moral cristã nesse campo.
Propostas idênticas voltaram a emergir em 2005, quando foi eleito Bento XVI.
João Paulo II e Bento XVI não seguiram tais conselhos.
Nada disso impede que idênticos sonhos se projetem agora para o novo conclave.
Logo à cabeça, a reforma da Cúria romana, mudando a ideia e a prática de governo pela de serviço.
Respeito pelo princípio da subsidiariedade, que a
Igreja tanto recomenda à sociedade civil, sem o aplicar dentro de
casa, como já defendia Pio XII, sem menosprezo da sua estrutura
hierárquica.
O exercício da autoridade na Igreja funciona mal
quando não se respeita a colegialidade. O poder deve ser um carisma de
serviço. Não é bom bispo ou bom padre aquele que não sabe estimular
todos os dons do povo de Deus, na diversidade vocacional e ministerial.
Cardeal
francês Paul Poupard, primeiro presidente do Pontifício Conselho da
Cultura. Vaticano, 7.3.2013. Foto: REUTERS/Alessandro Bianchi
Mais do que discutirmos se o Concílio Vaticano II deve
ser interpretado na hermenêutica da continuidade ou da descontinuidade,
será importante redescobri-lo como quem encontra o seu tesouro. A
pedra preciosa pode ser a função eclesial da Teologia, que não tem de
dar a ideia que perdeu vitalidade e criatividade ou se enreda nos
aparentes ou reais conflitos com o magistério eclesial, universal ou
local.
O peso europeu ou americano não pode esmagar a
Igreja emergente nos países em vias de desenvolvimento, onde os
cristãos não sofrem os males do secularismo e estão a crescer.
Moral da história deste apontamento ligeiro, mais
virtual do que real: na expectativa da eleição do novo Papa, é natural
que nos interroguemos para onde vai a Igreja e para onde é que nós
queremos ir.
A Igreja não é uma corporação, mas um corpo vivo
cuja vitalidade se exprime na comunhão do Espírito. Não tenhamos medo
de amar a Igreja que somos no presente, a que gostaríamos que ela fosse
já e no futuro, correspondendo mais e melhor àquela que
Deus mais gosta que ela seja.
O
cardeal francês Philippe Barbarin percorre de bicicleta a Praça de São
Pedro, no Vaticano, após uma reunião do Colégio Cardinalício. 6.3.2013.
Foto: AP Photo/Alessandra Tarantino
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