sexta-feira, 8 de março de 2013

Não tenhamos medo de amar a Igreja do presente e aquela que gostaríamos que fosse no futuro - Eleição do novo papa

Cardeal português José Saraiva Martins 7.3.2013 Foto: AP Photo/Alessandra Tarantino - Na Praça de São Pedro, no Vaticano, após reunião do Colégio Cardinalício que antecede o conclave para a eleição do sucessor de Bento XVI.
Eleição do novo papa

Quando fiz reportagem no Vaticano dos conclaves de 1978, que elegeu João Paulo II, e de 2005, com a escolha de Bento XVI, não faltavam “adivinhações” dos jornalistas. Alguns citavam circunspectos dossiês de estudiosos que sonhavam influenciar os cardeais eleitores, indicando-lhes as reformas mais urgentes na Igreja.
Em síntese, naqueles tempos, sobretudo em 1978, as propostas que o novo Papa deveria ter na agenda, logo nos seus 100 dias de pontificado, eram as seguintes: abolir as nunciaturas; fazer eleger os bispos nas respetivas regiões eclesiásticas; conferir poderes deliberativos aos sínodos dos bispos; instituir no vértice da Igreja um órgão colegial que, sob a presidência pessoal e efetiva do Papa, tratasse, pelo menos duas vezes por semana, os problemas que se põem à Igreja no seu conjunto, tomando as decisões oportunas.
Em destaque estava ainda libertação do medo da revolução sexual, renovando a moral cristã nesse campo.
Propostas idênticas voltaram a emergir em 2005, quando foi eleito Bento XVI.
João Paulo II e Bento XVI não seguiram tais conselhos.
Nada disso impede que idênticos sonhos se projetem agora para o novo conclave.
Logo à cabeça, a reforma da Cúria romana, mudando a ideia e a prática de governo pela de serviço.
Respeito pelo princípio da subsidiariedade, que a Igreja tanto recomenda à sociedade civil, sem o aplicar dentro de casa, como já defendia Pio XII, sem menosprezo da sua estrutura hierárquica.
O exercício da autoridade na Igreja funciona mal quando não se respeita a colegialidade. O poder deve ser um carisma de serviço. Não é bom bispo ou bom padre aquele que não sabe estimular todos os dons do povo de Deus, na diversidade vocacional e ministerial.
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Cardeal francês Paul Poupard, primeiro presidente do Pontifício Conselho da Cultura. Vaticano, 7.3.2013. Foto: REUTERS/Alessandro Bianchi

Mais do que discutirmos se o Concílio Vaticano II deve ser interpretado na hermenêutica da continuidade ou da descontinuidade, será importante redescobri-lo como quem encontra o seu tesouro. A pedra preciosa pode ser a função eclesial da Teologia, que não tem de dar a ideia que perdeu vitalidade e criatividade ou se enreda nos aparentes ou reais conflitos com o magistério eclesial, universal ou local.
O peso europeu ou americano não pode esmagar a Igreja emergente nos países em vias de desenvolvimento, onde os cristãos não sofrem os males do secularismo e estão a crescer.
Moral da história deste apontamento ligeiro, mais virtual do que real: na expectativa da eleição do novo Papa, é natural que nos interroguemos para onde vai a Igreja e para onde é que nós queremos ir.
A Igreja não é uma corporação, mas um corpo vivo cuja vitalidade se exprime na comunhão do Espírito. Não tenhamos medo de amar a Igreja que somos no presente, a que gostaríamos que ela fosse já e no futuro, correspondendo mais e melhor àquela que Deus mais gosta que ela seja.
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O cardeal francês Philippe Barbarin percorre de bicicleta a Praça de São Pedro, no Vaticano, após uma reunião do Colégio Cardinalício. 6.3.2013. Foto: AP Photo/Alessandra Tarantino

Cón. Rui Osório
In Voz Portucalense, 6.3.2013

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