Por que razão o tema do "gerar para a fé" pode
ser definido como "uma batalha cultural"? Não bastaria enfrentar essa
questão sobre o plano da pastoral e da organização da praxis eclesial
concreta, em vista da nova evangelização? Não seria mais lógico pensar
em termos de uma nova mistagogia e aprofundamento da idade mais
ajustada para a celebração dos sacramentos de iniciação cristã por
parte dos nossos rapazes e das nossas raparigas?
Estabelecer a questão da geração na fé e para a
fé sobre o plano diretamente cultural não pretende, obviamente,
diminuir o valor dos outros percursos de reflexão igualmente urgentes.
Pretende, contudo, chegar a um nível que é, de certa forma, o
fundamento deles.
O problema real são os adultos
Qual é, então, o horizonte a que nos queremos
referir quando falamos de batalha cultural relativamente à relação
entre jovens e fé? Queremos explicitamente evidenciar a imposição de um
novo sentimento de vida, que plasmou a existência das gerações menos
jovens - dos adultos, para sermos precisos - rumo a uma cultura da
juventude, que de facto e por paradoxo, a todos os níveis, humano e
religioso, constitui um grande obstáculo para a existência dos jovens.
Para dizê-lo numa penada, vivemos um tempo no qual os adultos gostam
mais da ideia de juventude do que os próprios jovens. E nisto, os
adultos tornam-se incapazes daquela experiência de gestação, humana e
religiosa, de que são todavia os atores principais.
(...)
Os jovens, de quem os sociólogos sublinham a
estranheza à fé, são filhos de adultos que deixaram de dar espaço à
própria fé cristã: continuam a pedir os sacramentos da fé, mas sem fé
nos sacramentos; levam os filhos à Igreja mas não levam a Igreja aos
seus filhos; favorecem o ensinamento da religião mas reduzem a religião
a uma simples questão escolástica. Pedem às suas crianças para rezarem
e irem à missa mas muitas vezes nem a sua sombra se vê na Igreja. E,
sobretudo, os mais novos não encontraram os pais na oração ou na leitura
do evangelho.
Estes adultos impuseram uma divergência clara
entre a educação para viver e a educação para crer, uma divergência
que, mesmo que não negando diretamente Deus, avalizou descrença: "se
Deus não é importante para o meu pai e para a minha mãe, não o pode ser
para mim. Se o meu pai e a minha mãe não rezam, a fé não implica com a
vida. Se não há lugar para Deus na existência no mundo - no sentimento
de vida - do meu pai e da minha mãe, não existe realmente o problema
do lugar de Deus na minha existência".
Foi assim interrompida a aliança entre paróquia e
família: de um lado da balança fica o evangelho, a oração, a
solidariedade...; do outro lado, o iogurte, a dieta, o ginásio, o
estádio e o creme antienvelhecimento... Há muito tempo que nós,
adultos, pedimos a felicidade apenas a estas coisas...
Reevangelizar a idade adulta
Sem adultos na fé não pode existir gestação da
fé. O ponto problemático é precisamente o da liquidação da idade
adulta, que é a verdadeira chave do universo cultural ocidental. Não
nos faltam apenas adultos na fé. Faltam-nos adultos "tout court".
É por isso urgente que a comunidade crente
concretize uma tarefa cultural precisa e importante: reevangelizar a
idade adulta. Trata-se de restituir e de "reinstituir" dignidade e
apetência à dimensão adulta da existência. Não podemos apreciar apenas a
juventude e aquilo que farmacêutica e cirurgicamente se lhe assemelha.
Temos necessidade absoluta de adultos: adultos enquanto pessoas
reconciliadas com a verdade da vida e da vocação humana. Precisamos
deles para o bem estar da sociedade e da Igreja. Mas é uma tarefa que
realmente não é fácil.
Este texto integra o número 19 do "Observatório da Cultura" (abril 2013).
Armando Matteo, Assembleia plenária do Pontifício Conselho para a Cultura
Roma, 6-9.2.2013