As Nações sobrevivem à erosão do tempo e
permanecem vivas na história dos povos se prosseguirem na fecundidade
que lhes vem da sua espiritualidade e da sua cultura. A diluição
espiritual e cultural de um povo significará inevitavelmente a perca da
sua identidade e a sua fusão num hoje sem futuro.
Pieter Rubens |
A História de Portugal regista dois momentos
altos na recuperação da sua independência: a Revolução 1383-1385 e a
Restauração de 1640.
Na Revolução de 1383-1385 salienta-se o cerco de
Lisboa, que durou cerca de cinco meses e terminou em princípios de
setembro de 1384, acentuando-se durante o assédio, o significado da
vitória alcançada por D. Nuno Alvares Pereira em Atoleiros a 6 de abril
de 1384 e a eleição do Mestre de Aviz para Rei de Portugal,
curiosamente a 6 de abril de 1385. Em 15 de agosto travou-se a Batalha
de Aljubarrota, sob a chefia de D. Nuno Alvares Pereira, símbolo da
vitória e da consolidação do processo revolucionário de 1383-1385.
No movimento da restauração destaca-se a coroação
de D. João IV como Rei de Portugal, a 15 de dezembro de 1640, no
Terreiro do Paço em Lisboa.
A Solenidade da Imaculada Conceição liga estes
dois acontecimentos decisivos na História da independência de Portugal e
no contexto das Nações Europeias. Segundo secular tradição foi o
condestável D. Nuno Alvares Pereira quem fundou a Igreja de Nossa
Senhora do Castelo em Vila Viçosa e quem ofereceu a imagem da Virgem
Padroeira, adquirida na Inglaterra. Este gesto do Contestável reconhece
que a mística que levou Portugal à vitória veio da devoção de um povo a
Nossa Senhora da Conceição.
Aliás, já desde o berço, já a quando da conquista
de Lisboa por D. Afonso Henriques, havia sido celebrado um pontifical
de ação de graças, em Lisboa, em honra da Imaculada Conceição.
Giovanni Tiepolo |
A espiritualidade que brotava da devoção a Nossa
Senhora da Conceição foi novamente sublinhada no gesto que D. João IV
assumiu ao coroar a Imagem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa
como Rainha de Portugal nas cortes de 1646.
Esta espiritualidade imaculista foi igualmente
assumida por todos os intelectuais, que na prestigiada Universidade de
Coimbra defenderam o dogma da Imaculada Conceição sob a forma de um
juramento solene.
De tal modo a Imaculada Conceição caracteriza a
espiritualidade dos portugueses, que durante séculos o dia 8 de
dezembro foi celebrado como "Dia da Mãe" e João Paulo II incluiu no seu
inesquecível roteiro da Visita Pastoral de 1982 dois Santuários que
unem o Norte e o Sul de Portugal: Vila Viçosa no Alentejo e o Sameiro
no Minho.
Santuário de Nossa Senhora da Conceição, Vila Viçosa |
O dia 8 de dezembro transcende o "Dia Santo" dos
Católicos e engloba indubitavelmente a comemoração da Independência de
Portugal, que o dia 1 de dezembro retoma. O feriado do dia 8 de
dezembro é religioso, mas é também celebrativo da cultura, da tradição e
da espiritualidade da alma e da identidade do povo português.
Não menos importante, e em âmbito religioso e
litúrgico, o tema da Imaculada Conceição da Virgem Maria é já
abundantemente abordado pelos Padres da Igreja. Será o Oriente cristão o
primeiro a celebrá-la. Festividade que chega à Europa Ocidental e ao
continente europeu pelas mãos das cruzadas Inglesas nos séc. XI e XII.
Vivamente celebrada pelos franciscanos a partir de 1263, será o também
franciscano Sixto IV, Papa, que a inscreverá no calendário litúrgico
romano em 1477.
El Greco |
De facto, o debate e a celebração desta festividade em
toda a Europa é acompanhada pela história do próprio Portugal. Coimbra,
como já vimos, tem um importante papel em todo este processo.
Em 8 de dezembro de 1854, viverá a Igreja o auge
de toda esta riqueza teológica e celebrativa. Através da bula
"Ineffabilis Deus", Pio IX, após consultar os bispos do mundo, definirá
solenemente o dogma da Imaculada Conceição da Virgem Maria.
Não estamos diante de uma simples festa cristã ou
de capricho religioso. O dogma resulta de tudo quanto a Igreja viveu
até aqui e vive hoje em toda a sua plenitude. Faz parte da identidade
da Igreja. Isso mesmo o prova o texto proclamado por Pio IX que apoia a
sua argumentação nos Padres e Doutores da Igreja e na sua forma de
interpretar a Sagrada Escritura. Ele, de facto, reconhece que este
dogma faz parte, depois de muitos séculos, do ensinamento ordinário da
Igreja.
Diego Velázquez |
Portugal, segundo Nuno Alvares Pereira, ou melhor, São
Nuno de Santa Maria, e D. João IV isso mesmo o demonstram, não só como
resultado da sua própria fé mas como expressão de um povo deveras
agradecido pela sua Independência e Liberdade.
A Conceição Imaculada da Virgem é um dogma de fé segundo o qual Maria é considerada a primeira redimida pela Páscoa de Cristo.
P. Francisco Couto
Reitor do Santuário de Vila Viçosa, professor do Instituto Superior de Teologia de Évora
P. Senra Coelho, professor do Instituto Superior de Teologia de Évora, Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa
In Agência Ecclesia
Reitor do Santuário de Vila Viçosa, professor do Instituto Superior de Teologia de Évora
P. Senra Coelho, professor do Instituto Superior de Teologia de Évora, Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa
In Agência Ecclesia
http://www.snpcultura.org/imaculada_conceicao_e_historia_portugal.html
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